Monday, August 29, 2016

Cabine C, uma crônica sobre uma das maiores aventuras da infância

Não bastava o Atari. Era 1986, eu ainda não havia feito 12 anos. Éramos crianças demais para um tumulto adolescente. Em vez disso, construímos uma nave espacial, eu e meu irmão. Pegamos as cadeiras, fizemos uma armação empilhando-as, as cobrimos com lençóis sustentados por vassouras sobre elas e o armário e armamos outras duas cadeiras em frente à televisão. Tínhamos nossa cabine e nosso foguete era o jogo Beamrider.
Foi a melhor viagem ao espaço que fiz, melhor que as dos livros infantojuvenis de FC que havia lido. No jogo combatíamos alienígenas cujas naves despontavam no horizonte, atacando-nos com disparos de lasers. Éramos bons o bastante e atravessamos várias fases. Um amigo dizia-nos que no final do jogo chegava-se à Terra. Acho que não havia final, mas se houvesse, não chegamos a tempo, pois nossos pais chegariam antes e desmontamos nossas naves antes de sermos abatidos pela eventual fúria terrestre deles.

Monday, August 22, 2016

Front 242, uma crônica

Estive afastado de computadores por pouco mais de um mês. Hoje voltei a escrever contos e crônicas.

O futuro, nos estertores dos anos 1980, era o som do Front 242. Nada soava mais cyberpunk e eu nem sabia a existência dessa palavra. Era uma banda belga que se tornou referência do que parecia-nos vanguarda europeia da época, embora nem seja tão vanguardista quanto as bandas realmente industriais que existiam antes. O barulho que fecha uma das suas músicas relativamente populares à época, Masterhit, indicava o que Ministry e Nine Inch Nails fariam depois, mas de forma mais sintetizada, não soando vagamente analógico. Aquele barulho disforme sugeria que o futuro seria desolador, perigoso e sombrio; em especial, se não se preparássemos a mente para lidar com alta tecnologia e o corpo para fugir de ameaças sutis. Um vídeo em especial, em que um anãozinho pilotava um mini-helicóptero que invadia um galpão onde estavam os integrantes, parecia um prenúncio sinistro.
Em meados dos anos noventa estava assistindo o Lado B da MTV com meu irmão e revimos esse vídeo. Ficamos tão decepcionados... Era farsesco, cordas eram visíveis levantando os integrantes, que pareciam tão desesperados quando vimos pela primeira vez, o helicóptero parecia um brinquedo malfeito. Era cômico, mas não era engraçado. Front 242, então, já soava como passado embolorado. Estranho recordar disso tudo em 2016. Vinil voltou a ser algo que caracteriza essa época. Drones genocidas na Ásia talvez prenunciem mini-helicópteros nos quais uma pessoa pode entrar na sua casa e te liquidar. Front 242 foi usado como base musical até pelo Bonde do Tigrão, na popularização do funk carioca. Era o som do futuro sim e ele já chegou; é desolador e perigoso, mas ensolarado.