Sunday, December 28, 2008

Puto e com sono

Vando estava redigindo um longo romance baseado misturando o imaginário batido de mundos fantásticos de um passado idealizado da humanidade, semelhante a todos estes subprodutos que outros jogadores de RPG e viciados em Tolkien escrevem, com uma forte influência de policial noir, em especial Raymond Chandler. Não tem pé nem cabeça, mas ele está crente que está para revolucionar a história da indústria editorial.
Gordo, branquelo e com a voz pastosa de mocorongo, ele investe horas e sono nisto, crente na força de vontade que vai tirá-lo do cartório de notas e ofícios. Tem sorte de ser grandão e por isso mesmo não é tão zoado. Está demorando demais. O computador trava e é desligado com um chute na torre.
De manhã, levanta uma hora mais cedo do que cotidianamente acorda, reconecta os cabos na torre e liga o computador. O arquivo recuperado não tinha um trechinho fundamental, o último que foi digitado. Foi quando desistiu do livro e sua vida e a dos seus semelhantes melhoraram muito.

Sunday, December 21, 2008

Heroína

Safo. Ele acha que essa palavra se aplica a ele, lhe define bem, pelo o que entendeu da aula de literatura. O dicionário está na estante, à sua frente, mas não o pegou para confirmar o significado; nem sequer teve coragem de abrir as apostilas do cursinho na escrivaninha, ao seu lado. Sentado na cama, sem forças nem vontade para fazer nada além de ouvir Dead Fish e Millencollin, pensa como é sortudo e deita-se de novo, só de cueca e pedalando uma bicicleta imaginária. Agora que se afastou da marijuana tudo o que quer é emagrecer e fazer algo por Maria Joana. A coincidência de nomes desagradável pra caralho joga na cara a sua pusilanimidade durante todo o tempo de vigília e em alguns sonhos, ainda que estes sejam bons. Havia e há pouco que ele pode fazer, mas ele não faz bosta nenhuma. Na verdade, tem feito demais, ele que nunca fez nada na vida lava a louça, varre a casa, limpa os banheiros, passa a roupa, os pais admirados por ele ser tão prestativo em um momento em que eles não podem mais ter uma empregada. No entanto, preocupados por estarem gastando tanto com colégio particular e ele não estar particularmente estudioso. Procrastinação. A única outra coisa que aprendeu este ano foi esta palavra e dessa ele tinha certeza do significado. Era a exata definição do que fazia há algumas semanas, embora jamais a tenha escutado sentia-a pesar sobre a consciência. Quem ainda injetava em 2008? Só ela mesmo. Paralisado pela culpa de não ajudá-la, nem se ajudar, nem ajudar de verdade seus pais, ficou na cama esperando todas as duas discografias em MP3 se esgotarem até as duas da tarde, quando se levantou para ir à cadeia visitar pela primeira vez a menina que o salvou da virgindade e do desejo de morrer.