O beijo assusta. Desejava-o, mas não tem sentido. Após todos esses anos querendo-a em silêncio sofrido tinha certeza que ela havia percebido seus olhares platônicos e os desprezado olimpicamente. O retribui por instinto.
Ela então pergunta se ele trouxe o DVD do Joy Division que ficou de gravar. Isso aconteceu em um sonho. Que ele não contou para ninguém. Nem sequer tem CDs do Joy Division. “Não, esqueci”. Sorri desconcertado. “Você está tão pálido”. Sonha com ela há três dias. Teve poluções noturnas, o que não acontecia desde a adolescência. Parecia real. É real, agora, mas não parece.
Ao longo do dia procura amigos com quem sonhou. Seus sonhos têm se passado somente à noite e neles tem a autoconfiança que sempre lhe faltou. Todos se lembram das conversas e riem de novo das piadas que contou.
À noite corre para casa. Agacha-se e olha embaixo da cama. Seu duplo o encara, arrasta-se para o meio do quarto, levanta-se e sai sorrindo com desdém. É mais alto, bronzeado, forte. Faz sentido. Ele encolhe-se debaixo da cama para de lá nunca mais sair. Agora tem a vida com a qual sempre sonhou.
Miniconto que fiz para um concurso literário do site Estronho e Esquésito. O tema era "O Monstro Debaixo da Cama". Não fiquei nem entra os trinta primeiros. Mas gostei do que escrevi. Depois pretendo reescrever e expandir esse continho.