A câmera de segurança flagrou o primeiro encontro. Ela estava de chapéu, esfuziante, conversando em todas as rodinhas, alegrando-as. Ele estava com uma tipoia, cabisbaixo, mirando macambúzio o braço quebrado. Os amigos traziam cerveja e ele recusava. Não podia beber, devido aos remédios.
Eles encaminham-se para a porta, mas vindos de diagonais diferentes. Enquanto ela para e conversa com o amigo que o tirou de casa para que não ficasse deprimido, ele admira-a, hipnotizado. Ela parece ignorar a presença dele.
Quatro meses depois, outro bar. A câmera de segurança, que nunca registra os furtos, registrou o segundo encontro. Ele já estava melhor e bebendo. Ela estava bêbada. Ela olhou para ele dessa vez, porque a melhor amiga dela aproximou-se dele numa conversa ébria na área dos fumantes. Ele aproveita para falar-lhe ao pé do ouvido, com insistência. Ela parece corresponder bem e ri.
A câmera registrou também quando a performance começou. Era daquelas em que os atores interagem com o público. A atriz principal olha para ele e sapeca-lhe um beijo. De língua. Ele cede. Todos vão embora, sem se falar mais. Na filmagem da festa da semana seguinte, isto é patente.
Nenhum deles nunca mais se encarou. Mas o dono das casas noturnas, voyeur inveterado, montou um curta para satisfazer seu schadenfreude.