Tuesday, August 29, 2023

Homenagem ao centenário de Millôr (Coluna Subnotas 22)

Há muito tempo, por uma série de razões insondáveis até para mim e algumas outras muito práticas, não publico minhas colunas escritas para o Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) neste blog. E nem publicarei as que vão desde a terceira edição até a vigésima primeira. E nem sei se publicarei outras aqui futuramente. Quem sabe algum dia as reúno num livro. No entanto, publico esta para fazer duas erratas: a paródia intitulado Chato foi bem chatinha e saiu errada no jornal (comi algumas palavras na digitação; corrigi a tempo, mas mandei o arquivo sem salvá-lo, então foi com o erro) e a nota ABL saiu muito cheia de vírgulas, então pus um parênteses nela para explicar melhor que é a única que não se trata de um pastiche/paródia. Este coluna foi publicada na página 8 da edição 8065 do jornal, no dia 18 de agosto de 2023, em homenagem aos cem anos de nascimento do Millôr, cujo aniversário seria comemorado dois dias antes caso ele ainda estivesse vivo.  

SUBNOTAS 22

MILLORIANA

A coluna de hoje será em homenagem a Millôr Fernandes (1923-2012), cujo centenário seria comemorado na quarta-feira desta semana. Farei alguns pastiches dele, que era um grande frasista. Ou aforista, como preferirem. Creio que se ele estivesse vivo não se incomodaria. Ou talvez sim: ele tinha fama de azedo, algo que eu percebia nas entrelinhas, mas já parafraseando-o, isso não o interessaria, pois está morto. “Todo homem nasce original e morre plágio”, afinal. Não é nada muito rigoroso. Li mais e fui mais influenciado pela geração que o teve como modelo (Angeli, Laerte e cia).

JORNALISMO

Para todos os poderosos, jornalismo é armazém de secos e molhados.

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL MUNICIPAL

Livrai-me da justiça, que das árvores me livro eu.

LITERALMENTE

Roube ainda hoje. Amanhã pode ser ilegal. (Essa eu roubei de forma literal, para encher linguiça).

ATUALIZAÇÃO

Celebridade é qualquer idiota com milhares de seguidores.

CHATO

Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós mesmos.

FUSÃO DE AFORISMOS

O ser humano é um macaco inviável.

MERITOCRACIA

Se eu ganhasse o que acho que mereço não sobraria dinheiro para ninguém.

ONISCIENTE

Quem tudo sabe informou-se muito mal.

SINCERIDADE

Cochicha na orelha do livro o que achou da história.

IMORTAIS

Os escritores mortos são muito melhores do que os vivos graças a IA e continuam a não contribuir para a previdência.

ABL

Uma constatação (não é uma frase do Millôr, que não gostava da Academia Brasileira de Letras): ali os imortais estão enterrados em mausoléus malcuidados. Desídia do Merval Pereira, levando em consideração a teoria do domínio do fato.

Daniel Souza Luz é revisor, escritor e jornalista

Millôr Fernandes em 1957. Foto de domínio público, autor não creditado, acervo do Arquivo Nacional.