Há muito tempo, por uma série de razões insondáveis até para mim e algumas outras muito práticas, não publico minhas colunas escritas para o Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) neste blog. E nem publicarei as que vão desde a terceira edição até a vigésima primeira. E nem sei se publicarei outras aqui futuramente. Quem sabe algum dia as reúno num livro. No entanto, publico esta para fazer duas erratas: a paródia intitulado Chato foi bem chatinha e saiu errada no jornal (comi algumas palavras na digitação; corrigi a tempo, mas mandei o arquivo sem salvá-lo, então foi com o erro) e a nota ABL saiu muito cheia de vírgulas, então pus um parênteses nela para explicar melhor que é a única que não se trata de um pastiche/paródia. Este coluna foi publicada na página 8 da edição 8065 do jornal, no dia 18 de agosto de 2023, em homenagem aos cem anos de nascimento do Millôr, cujo aniversário seria comemorado dois dias antes caso ele ainda estivesse vivo.
SUBNOTAS 22
MILLORIANA
A coluna de hoje será em
homenagem a Millôr Fernandes (1923-2012), cujo centenário seria comemorado na
quarta-feira desta semana. Farei alguns pastiches dele, que era um grande
frasista. Ou aforista, como preferirem. Creio que se ele estivesse vivo não se
incomodaria. Ou talvez sim: ele tinha fama de azedo, algo que eu percebia nas
entrelinhas, mas já parafraseando-o, isso não o interessaria, pois está morto.
“Todo homem nasce original e morre plágio”, afinal. Não é nada muito rigoroso.
Li mais e fui mais influenciado pela geração que o teve como modelo (Angeli,
Laerte e cia).
JORNALISMO
Para todos os poderosos,
jornalismo é armazém de secos e molhados.
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL MUNICIPAL
Livrai-me da justiça, que das
árvores me livro eu.
LITERALMENTE
Roube ainda hoje. Amanhã pode
ser ilegal. (Essa eu roubei de forma literal, para encher linguiça).
ATUALIZAÇÃO
Celebridade é qualquer idiota
com milhares de seguidores.
CHATO
Indivíduo que tem mais
interesse em nós do que nós mesmos.
FUSÃO DE AFORISMOS
O ser humano é um macaco
inviável.
MERITOCRACIA
Se eu ganhasse o que acho que
mereço não sobraria dinheiro para ninguém.
ONISCIENTE
Quem tudo sabe informou-se muito
mal.
SINCERIDADE
Cochicha na orelha do livro o
que achou da história.
IMORTAIS
Os escritores mortos são muito
melhores do que os vivos graças a IA e continuam a não contribuir para a
previdência.
ABL
Uma constatação (não é uma
frase do Millôr, que não gostava da Academia Brasileira de Letras): ali os
imortais estão enterrados em mausoléus malcuidados. Desídia do Merval Pereira,
levando em consideração a teoria do domínio do fato.
Daniel Souza Luz é revisor,
escritor e jornalista
Millôr Fernandes em 1957. Foto de domínio público, autor não creditado, acervo do Arquivo Nacional. |