Sunday, August 30, 2009
Diário de um condenado
Sunday, August 23, 2009
Enfim o fim
Em uma comunidade de extrema-direita, deram conta do sumiço inexplicável do velho, que tinha até um perfil no orkut, quem diria. Mas eles especulavam se não teriam sido membros do governo que teriam dado cabo dele. Velhos gagás. Queriam sair por aí batendo nesses caras em comícios, tal qual o velho clamava em seu perfil no orkut. Mas não relacionavam seu desaparecimento ao aparecimento da ossada. Isso foi o fim de tudo. Quando mostrei isso ao meu irmão, ele perdeu todas as esperanças. As tentativas governamentais de localização das ossadas, com ajuda do exército, eram patéticas, claro. Toda a investigação, tudo que ele havia investido, em nada sossegou seu desejo de enterrar meu pai em solo apropriado, católico. Para mim, no entanto, é como se o tivesse enterrado no dia em que acabamos com o velho. Está bom assim.
Sunday, August 16, 2009
Enfim parte 20
Mas resolvi fazer uma busca na internet. Não achei nada. Aí procurei no sistema de busca do orkut. Alguém tinha se dado conta do sumiço dele.
Continua.
Sunday, August 09, 2009
Enfim parte 19
Não chegariam mesmo a nós. Feito o teste de DNA, descobrimos que aquele esqueleto não era de papai. O velho canalha tinha o poder de ser traiçoeiro mesmo além-túmulo. Jogamos a ossada no quintal do presidente da comissão de desaparecidos, na capital. No bilhete, expliquei que provavelmente era de um guerrilheiro. Era mesmo. Estava estampado na manchete dos jornais, duas semanas depois. Um trotskista sem ligação com o grupo de meu pai.
Continua...
Sunday, August 02, 2009
Enfim parte 18
Depois de um bom tempo revolvendo a terra, Júnior o acha. Ele vai guardando os ossos dentro de um saco preto. Com suas luvas amarelas, mira o crânio por uns instantes antes de guardá-lo com um certo carinho, por mais estranho que isto possa ser. Observo tudo sentado contra a parede, com a tremedeira das mãos já controlada. As pernas, entretanto, permanecem trêmulas ao me levantar para ajudá-lo a pôr o corpo do velho na cova reaberta. O rosto está quase irreconhecível, amassado, o nariz torto. Enquanto ele começa a jogar a terra de volta, diz calmamente:
- Não se preocupe, o silenciador funcionou bem. Ninguém vai nos pegar. Moramos a milhares de quilômetros da família dele, pegamos ele sozinho na praia, estamos a centenas de quilômetros de lá. Não chegariam a nós, mesmo que achem o corpo.
Continua...