Em ambientes fechados, sempre
olho por uma janela ou porta procurando por uma árvore. Adoro ver o sol batendo
forte nelas, verde fecundado pelo amarelo. Uma sensação de liberdade pela qual ninguém
pode me recriminar, nunca houve quem percebesse, por mais poder que tivesse
sobre mim.
Na escola, nos empregos, em casa,
quaisquer desses cativeiros, sempre permaneci obediente. Ansiando pelo sol;
obrigações, tarefas e cobranças me fazendo sombra sempre, para sempre.
Até que Ela apareceu. Puxando-me
para o sol que saneou o musgo que recobria meus sonhos. Um desses sonhos,
enfim, nasceu.
Sonho sorridente, que dobrava
chefes, a própria mãe, sogros rigorosos, conseguindo fugir para o sol, junto às
árvores, às vezes.
Assim passaram-se sete anos,
apertados financeiramente, sem que pretendêssemos parir outros sonhos. Ainda
assim, sacrifícios sondando. Cansaço, brincadeiras, brigas sem sentido, risadas
e os três dormindo juntos, a pequena Sonho metendo-se entre Ela e eu, alta
madrugada, com medo da escuridão.
Medo que ela encarou antes de
nós. Nosso Sonho desvaneceu-se, tal como todo sonho, de repente, em meio ao
rugido do dia, sobre o capô de um garoto de 18 anos, 51 pontos na carteira,
muito mais do que isso na carteira que interessa, a do pai dele.
A pequena Sonho, que queria ser
enfermeira, era a própria Ela, só via Ela nela. Esperança de nós. Procurei o
assassino, ele riu, fez-se de compadecido, disse que se sentia mal, mas riu. Insistiu
que não era justo que fosse julgado por isso, que não aceitava ser julgado
pelas pessoas, pela Justiça tudo bem, mas pelas pessoas e por mim não, porque “sou
muito mais do que isso”. Riu impune. Disseram-me para não procurá-lo porque ele
ainda iria rir do que fez, certeza.
Não consegui. Não podia mais ver
ela n’Ela. Fico no sol, numa praça cheia de árvores, mãos estendidas para a
esmola suficiente, longe, mas perto, muito perto.
Para minha avó Arminda, meu avô Eurico, minha mãe
Olívia e para a querida Renata Laili. Ao som de Control Machete. Botelhos/MG, 3
de julho de 2012.
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