Lembro do primeiro CD que ouvi na
vida. Talvez o primeiro que vi pessoalmente, mas não tenho muito certeza disso.
Meu tio Helinho tinha acabado de voltar dos Estados Unidos, no fim dos anos
oitenta, e trouxe na bagagem o War, do U2. Na minha cabeça de moleque, ali em Botelhos,
interior de Minas Gerais, era o contato com o futuro inexorável da música – mas
como não sou besta, nunca me desfiz de nenhum vinil meu, sem notar algo à época
que hoje me incomoda muito, a falta de graves no som digital, hoje decadente,
por assim dizer.
A audição marcou-me mais pelo
contato com o objeto CD. Fetichismo da mercadoria, diria Marx, mas fodam-se
essas bobagens retóricas, o maravilhamento provocado pelo primeiro contato com
novas tecnologias é um dos traços humanos do qual mais gosto. Fora as músicas
marcantes que eu já conhecia do rádio – Sunday Bloody Sunday e New Year’s Day –
eu achei as outras meio... franzinas. Sem graça. Estou ouvindo-as neste momento
e não me lembrava delas. Outro fato que gostei do CD: voltar só nas músicas que
gostava era mais fácil do que nas fitas cassetes e nos vinis. Com o passar dos
anos, notei como esse era um vício ruim. Tanto que não me lembro das demais
músicas de War, que poderiam me encantar se eu tivesse ouvido sem afobamento.
Sem falar que notei que eu e alguns amigos referíamos às músicas de vários
artistas como a “faixa número tal do CD” ao falarmos de bandas favoritas até
meados dos anos noventa, ou seja, não sabíamos o nome de várias músicas das
quais gostávamos.
Semana passada queria escrever
sobre tudo isso, mas minha avó Arminda, mãe da minha mãe e do meu tio Helinho,
faleceu no domingo, 12 de junho de 2016. Quando encontrei meu tio no velório
falei para ele de como me lembrava bem de ouvir o CD do U2 na casa dele. Foi a
primeira vez que chorei naquele dia.
P.S. Recordo-me que nos anos
noventa o U2 processou o Negativland, banda experimental, e a SST Records,
gravadora independente, porque a banda batizou um single de U2, ironicamente,
usando samples não autorizados. Por isso mantenho somente o nome U2 nesta
crônica, sem subtítulo.
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