Primeiro, quando meus pais faziam
faculdade, era uma moça ainda adolescente. Era eles saírem e ela pegava o
telefone para passar trote em algum felizardo. Tinha uma linha de disk amizade,
algo assim, na qual se podia falar com qualquer um que estivesse “online”. Acho
que deu sujeira, vinha uma conta cara, não lembro mais direito. Daí ela começou
a ligar a esmo e passar cantadas vagabundas em qualquer trouxa que acreditasse.
A cara de pau marcava encontros nos quais não ia e nem pretendia. O dia mais
massa foi quando ela conseguiu convencer um fulano de que ela era rica. Ela
pediu para eu e meus irmãos pegarmos um balde e o enchermos d’água. Feito isso,
ela espalmava a mão n’água e falava que estava mergulhando na piscina.
Morríamos de rir. Essa aí não durou muito, era muito desajuizada. Consta que
casou com um fazendeiro rico, quando perguntei dela, muitos anos atrás. Deve
ter uma piscina de verdade agora.
Depois foi uma moça muito gente
fina e mais inteligente. Creio que posso citar o nome dela: Fátima. Dela
infelizmente não sei mais nada. Ela esperava um pouco para meus pais saírem
para a aula. Telefone nos anos oitenta era algo muito sério, do qual ela
mantinha distância. Assim que estava limpo, íamos todos para a rua. Ela sentava
na porta do prédio e ficava trocando ideia com as minhas vizinhas que já eram
adolescentes. Suponho que sobre garotos, nunca prestei atenção às conversas.
Minha rua virava uma bagunça danada. Das sete e pouco da noite até as dez era
lotada de criança zoando no talo. Não sei como nenhum vizinho não nos dedurou a
nossos pais. Acho que ali, na rua Platina da minha infância, todo mundo mais
velho era como sou agora com relação à molecada do meu bairro: se há crianças
implodindo a rua à noite de tanto brincar, é porque posso dormir sossegado,
pois estou num lugar muito seguro.
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