Eram com estéticas iguais, mas
como disposições diferentes, de acordo com a topografia da rua. Ambos divididos
em dois blocos, um era perpendicular à rua, o outro era paralelo. O uso do verbo no passado não está correto.
Eram não, ainda são. Edifícios Alfa e Beta. Na minha memória, no entanto, eram.
Morei, quando criança, no Beta.
Na verdade, de recém-nascido até o fim da adolescência e começo da vida adulta.
De 1974 a 1993. Vi várias fases nele. De quando havia árvores na rua. Quando
foram arrancadas. Quando era pintado. Era branco com detalhes verdes. Mudaram
completamente a cor hoje, é bege. Não gostei. Talvez melhor do que quando a
pintura ia ficando descascada, antigamente. E as grades brancas enferrujadas.
Mas prefiro lembrar delas assim. Primeiro baixas, depois altas. Hoje há um
portão que impedindo a entrada de não moradores. Antes a entrada para a escada
que dá acesso aos apartamentos era livre, apenas um portão interno deveria ser
fechado à noite, por volta das 22:00 – lembro-me de meus pais fechando-o. Até
pouco tempo ainda podia-se entrar livremente lá, de dia. Fui até a porta do
apartamento onde passei a infância, o número 101, em 2013. Não bati nas portas
(são duas) para saber quem mora lá ou como ele está por dentro. Vivo sonhando com
ele, tal como era, ou surrealmente modificado. Prefiro assim, que o apê
permaneça como lembrança e como um ente onírico.