Não me esqueço da primeira vez em
que li sobre o Jesus. Estava esperando meu pai no antigo escritório dele, eu
era criança ou adolescente. O problema é que agora a lembrança não é tão exata.
Mas do texto me lembro bem da frase que marcou. Não é a citação literal, mas o
crítico dizia “Este disco do Jesus and Mary Chain é um tiro do Magnum 45 na
cabeça de quem diz que o rock inglês está morto”. Estava em uma Folha de S.
Paulo, salvo engano, que estava dando bobeira ali na sala de espera. Será que
foi na época do Psychocandy, quando eu tinha 11 anos, ou do Darklands, quando
eu já tinha 13? De quem será o texto? Há muito tempo tenho para mim mesmo que,
pelo estilão, é o tão amado e odiado Pepe Escobar.
Guardei bem o nome da banda.
Depois disso, uma amiga de infância, a Cláudia Cândida, levou uma Bizz Letras
Traduzidas para casa. Ela a esqueceu lá e fiquei fascinado. Pedi para que ela
deixasse comigo mais um tempo para eu ler todas as letras; ela me deu a
revista, o que foi muito bacana da parte dela. E lá estava uma letra do Jesus
and Mary Chain, Darklands, faixa-título do disco de 1988.
Nunca tinha visto tanto niilismo
e desesperança. Ainda não conhecia as letras do Ian Curtis. Fiquei boquiaberto,
em especial com o final, que me pareceu mais irônico do que amargo. Foi paixão
à primeira leitura. Decorei a letra muito antes de realmente ouvir a música; na
verdade, antes mesmo de ouvir o que quer que fosse da banda.
Fiquei um tiquinho decepcionado a
primeira vez que consegui escutar. Amo Just Like Honey, mas pelo o que lia
deles, pensava que fosse mais barulhento, e foi justo a primeira música deles
que ouvi. Perto de Bauhaus, que escutava muito à época, achei muito contido. Só
tinha acesso via clipes que passavam no Som Pop na TV Cultura. Mas meu irmão
ganhou de uma menina que era apaixonada por ele, em 1990, uma coletânea em
vinil chamada Skate Surf Music; tinha uma música deles, Surfin’ USA, versão esporrenta
de um som do Beach Boys que eu já conhecia, aí sim gostei. Nem lembro mais onde
e quando que ouvi Darklands pela primeira vez. Mas a música fazia jus à letra,
felizmente.
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