Trabalhei a semana inteira. Ao menos
ganhava horas extras, à época. Quem é que paga isso hoje? Se você não fica até
mais tarde sem ganhar nada te consideram como alguém sem compromissos. E o
grande problema é que os temos.
Jornalixo te obriga a cobrir
milhões de questões irrelevantes em um curto intervalo de tempo, interessantes
apenas para os políticos nelas interessadas. Quem mais pode se interessar por
aquelas merdas? A questão é que naquele dia, naquela semana, há 14 anos, havia chegado do
serviço às dez da noite. Havia acordado às sete da manhã e entrado às oito.
Estava trabalhando alucinadamente por 14 horas, não havia nem almoçado. Sorte
que havia parado numa coletiva na qual havia comida, lá pelas duas da tarde. Ao
chegar em casa, não queria nem comer, nem tomar banho. Queria tanto ler, ouvir
música, ver um filme, que são meus direitos humanos básicos, negados pelo
empregador escroto de então. Apenas desabei no sofá e dormi.
- POR QUE VOCÊ NÃO TRANCOU A
PORTA?
Nunca vou esquecer deste grito.
Porque estou morto, porra, você me viu saindo cedo para trabalhar, olha a hora
em que estou voltando. Que raiva, caralho,
não dá para ter um mínimo de empatia e simplesmente trancar a porta ao notar
que ela está destrancada, sem acordar ninguém?
Só agora, quase uma década e meia
depois, ocorre-me a resposta à pergunta, embora a resposta que tenha dado à
época tenha sido a correta para o momento. O problema é que eu não estava
morto, de fato. Queria que alguém me fizesse este favor.
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