O futuro, nos estertores dos anos
1980, era o som do Front 242. Nada soava mais cyberpunk e eu nem sabia a
existência dessa palavra. Era uma banda belga que se tornou referência do que
parecia-nos vanguarda europeia da época, embora nem seja tão vanguardista
quanto as bandas realmente industriais que existiam antes. O barulho que fecha
uma das suas músicas relativamente populares à época, Masterhit,
indicava o que Ministry e Nine Inch Nails fariam depois, mas de forma mais
sintetizada, não soando vagamente analógico. Aquele barulho disforme sugeria
que o futuro seria desolador, perigoso e sombrio; em especial, se não se
preparássemos a mente para lidar com alta tecnologia e o corpo para fugir de
ameaças sutis. Um vídeo em especial, em que um anãozinho pilotava um mini-helicóptero
que invadia um galpão onde estavam os integrantes, parecia um prenúncio
sinistro.
Em meados dos anos noventa estava
assistindo o Lado B da MTV com meu irmão e revimos esse vídeo. Ficamos tão
decepcionados... Era farsesco, cordas eram visíveis levantando os integrantes,
que pareciam tão desesperados quando vimos pela primeira vez, o helicóptero
parecia um brinquedo malfeito. Era cômico, mas não era engraçado. Front 242, então,
já soava como passado embolorado. Estranho recordar disso tudo em 2016. Vinil
voltou a ser algo que caracteriza essa época. Drones genocidas na Ásia talvez
prenunciem mini-helicópteros nos quais uma pessoa pode entrar na sua casa e te
liquidar. Front 242 foi usado como base musical até pelo Bonde do Tigrão, na popularização
do funk carioca. Era o som do futuro sim e ele já chegou; é desolador e
perigoso, mas ensolarado.
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