Monday, November 28, 2016

Cocteau Twins, uma crônica.

Etéreo e onírico são adjetivos já muito desgastados para descrever o som do Cocteau Twins. Para mim, a primeira vez que ouvi, parecia mais do que isso até. Era magia, algo impossível de ser feito com instrumentos musicais, pois soou uma cornucópia de todas as belezas do mundo aos meus ouvidos. Um feito inumano feito por humanos que tiveram uma epifania, ou, melhor ainda, uma teofania.
Como vários bons sons que marcaram minha vida, conheci através do programa Som Pop, apresentado por Kid Vinil, na TV Cultura. Em 1990 ele passou dois clipes do Cocteau Twins. Recordo-me, mesmerizado, do deleite proporcionado pelas músicas e também pelas imagens. Um foi Carolyn’s Fingers e o outro foi Iceblink Luck. Não tenho nem mais o que falar; são obras de arte tão belíssimas que falam por si mesmas.
Foto de Teakood: https://www.flickr.com/photos/teakwood/ (Creative Commons). Link da postagem original da foto: https://www.flickr.com/photos/teakwood/8944771412/

Tuesday, November 22, 2016

PIL, uma crônica.

Sex Pistols era uma das minhas bandas favoritas no fim dos anos oitenta, talvez então fosse “A” favorita. Às vezes lia sobre o Public Image Limited, o PIL, o grupo que John Lydon montou logo depois da dissolução dos Pistols em 1978, abandonando o nome Johnny Rotten, mas só podia imaginar como era o som. Quando ouvi pela primeira vez, logo percebi a diferença fundamental do pós punk para o punk: eu ouvia nitidamente o baixo de Jah Wobble, era outra pegada, embora próxima. Na verdade, já conhecia a banda de um vídeo, gravado pelo meu amigo Maurício, do programa Vibração, que falava surf e às vezes de skate. Era uma reportagem mostrando como foram as demos de Tony Hawk e Lance Mountain nas pistas de skate do Brasil; uma das músicas do vídeo era Fodderstompf. Eu e meu irmão adorávamos o “rap” que mandavam em cima de uma base eletrofunk, uma falação no qual distinguíamos apenas que estavam ironizando, em meio ao pouco que sabíamos de inglês, o “amor estúpido”. No entanto, não fazíamos ideia de que banda era, não havia identificação das músicas e só conhecíamos o Sisters of Mercy na trilha sonora.
A primeira vez que me dei conta de que estava ouvindo o PIL foi emocionante: no programa Matéria Prima, apresentado por Serginho Groisman na TV Cultura na virada dos anos oitenta para os noventa. Durante o encerramento, tocou uma música na qual logo reconheci o vocal de Lydon, mas o timbre da guitarra era muito diferente da de Steve Jones e tão brilhante quanto. Em especial, consegui ouvir o baixo, algo que tentava fazer nas músicas dos Pistols e não conhecia reconhecer nada debaixo daquelas camadas superpostas de guitarras – só depois de começar a fazer aula de baixo que distingui o pálido som de base feito, reza a lenda, pelo próprio Jones, pois Sid Vicious não conseguia gravar adequadamente. A música do PIL que rolou no Matéria Prima era Public Image, descobri ao conseguir gravar o disco ao pegar emprestado com um amigo, creio que no final daquele ano ou em 1991; antes, como não tinha acesso, aproveite-me de uma particularidade da minha cidade natal. Assistia ao Matéria Prima na TV Cultura; ao final de todo programa tocava uma música diferente. Como outra emissora “educativa” iria se instalar no município em 1990, começaram a transmitir o sinal carioca da TVE. Sei lá porque cargas d’água, sempre que acabava o programa a TVE cortava o sinal ao vivo e passavam o final daquele Matéria Prima em que tocava Public Image quase na íntegra. Era o único jeito, para mim, de ouvir PIL à época. Toda tarde, sem exceção, assistia ao programa na TV Cultura e depois trocava de canal para escutar minha amada música no final “alternativo” inventado pela TVE.
Minha velha e querida fitinha cassete do PIL, já com mais de um quarto de século e ainda funcionando.

Friday, November 18, 2016

Magazine, uma crônica

Magazine era a banda de Howard Devoto, ex-Buzzcocks. Uma lenda pós punk do fim dos anos setenta e começo da década de oitenta. Mas só fui ouvir no século 21 e não me marcou muito.  O que eu ouvia mesmo nos anos oitenta era outro Magazine, o brasileiro. A banda de Kid Vinil, figura popular e simpática, que depois influenciaria muito do meu gosto musical à frente do Som Pop, na TV Cultura, no fim daquela década, um assunto do qual sempre gosto de falar. Mas quando eu era criança gostava mesmo era da banda new wave dele. Geral na escola também adorava os sucessos Eu Sou Boy e Tic Tic Nervoso. Meio que caiu no esquecimento; nunca mais ouvi, até lembrar hoje da existência da banda e de como achava divertido.
Manjam aquelas apresentações que as crianças fazem para os pais no fim do ano escolar? Em 1984 ou 1985 eu e meu irmão fizemos uma dessas apresentações no teatro da escola na qual estudávamos, o Pelicano, e foram apresentações musicais da qual ainda temos as fotos. A do meu irmão foi mais complicada: eles dançaram break ao som de uma música do Michael Jackson, vestidos a caráter, com roupas de b-boys. Não tenho certeza de qual música foi, só sei que era um dos hits então onipresentes dele, provavelmente Beat It. Era uma coreografia toda complicada, ou ao menos me pareceu. Um detalhe paralelo curioso: à época, quando passávamos em frente ao cemitério, minha irmã, que é mais nova, tinha medo de que tocasse Thriller no toca-fitas e até o pôster gigante do Michael Jackson que havia em casa foi tirado da parede quando começou a parecer meio sinistrão. Voltando à apresentação escolar de fim de ano, para mim foi mais fácil e combinava comigo: dançamos Tic Tic Nervoso, também devidamente vestidos para a ocasião; hoje seria chamado de cosplay new wave: com camisas sociais de manga curta e gravata. Foi divertido. Mesmo tendo vergonha de subir ao palco, não precisava fazer algo tão bem coreografado. Os meus amigos e colegas de sala até que dançaram mais direitinho, eu fiz tudo descoordenado e achei ótimo. Até hoje acho que mandei bem, era o espírito da música. O mais legal é olhar para as fotos e ver que eu pareço uma versão mirim do próprio Kid Vinil ou do Herbert Vianna – eu uso óculos.

Monday, November 07, 2016

XTC, uma croniqueta

Até hoje não ouvi muito. Sim, pouco manjo de XTC. No entanto, tenho uma ótima lembrança deles; só não sei se é real.
Em um domingo ensolarado e tranquilo da pré-adolescência, assim que caiu a noite, como de costume, fui assistir ao Som Pom, na TV Cultura. Lembro que passou um clipe deles e logo decorei o nome da banda, bem fácil de lembrar. Uma música tão solar quanto foi aquele domingo perdido lá nos estertores dos anos oitenta, com um vídeo muito colorido, que refletia a felicidade daquele dia. O problema é que só guardei o nome do XTC, não da música. Sempre procurei esse videoclipe. Nunca o vi em outros canais de TV ou online, justo hoje em que (quase) tudo se encontra na internet. Os clipes que encontro não tem eles tocando em estúdio, nem todo um clima leve em volta. Às vezes acho que esse vídeo que supostamente vi foi um sonho que tive inadvertidamente e a recordação dele se tornou real demais.