Muitas bandas, mas muitas mesmo,
passei a gostar ao ler sobre elas, muito antes de ouvi-las. Anos antes. Isso
aconteceu comigo e vários amigos meus. Anos oitenta, baby.
Não me esqueço da primeira vez em
que li sobre o Jesus. Estava esperando meu pai no antigo escritório dele, na
Rua Assis Figueiredo, no segundo andar de uma construção onde hoje há uma
igreja evangélica; eu era criança ou adolescente. O problema é que agora a
lembrança não é tão exata. Mas do texto me lembro bem da frase que marcou. Não
é a citação literal, mas o crítico musical escreveu algo muito parecido com
isto: “Este disco do Jesus and Mary Chain é um tiro do Magnum 45 na cabeça de
quem diz que o rock inglês está morto”. Estava em uma Folha de S. Paulo, salvo
engano, que estava dando bobeira ali na sala de espera. Será que foi na época
do Psychocandy, quando eu tinha 11 anos, ou do Darklands, quando eu já tinha
13? De quem será o texto? Há muito tempo tenho para mim que, pelo estilão, é o
tão amado e odiado jornalista Pepe Escobar.
Guardei bem o nome da banda.
Depois disso, uma amiga de infância, a Cláudia Cândida, levou uma Bizz Letras
Traduzidas para casa. Ela a esqueceu lá e fiquei fascinado. Pedi para que ela
deixasse comigo mais um tempo para eu ler todas as letras; ela me deu a
revista, o que foi muito bacana da parte dela. E lá estava uma letra do Jesus
and Mary Chain, Darklands, faixa-título do disco de 1988.
Nunca tinha visto tanto niilismo
e desesperança. Ainda não conhecia as letras do Ian Curtis, do Joy Division,
incomparavelmente mais sombrias. Fiquei boquiaberto, em especial com o final de
Darklands, que me pareceu mais irônico do que amargo. Foi paixão à primeira
leitura. Decorei a letra muito antes de realmente ouvir a música; na verdade,
antes mesmo de ouvir o que quer que fosse da banda.
Fiquei um tiquinho decepcionado a
primeira vez que consegui escutar. Amo Just Like Honey, mas, pelo o que lia,
pensava que fosse mais barulhento, e foi justo a primeira música deles que ouvi/vi
o clipe. Perto do Bauhaus, banda gótica que escutava bastante à época, achei
muito contido. Só tinha acesso via vídeos que passavam no Som Pop na TV
Cultura. Mas meu irmão ganhou de uma menina que era apaixonada por ele, em
1990, uma coletânea em vinil chamada Skate Surf Music; tinha uma música deles,
Surfin’ USA, versão esporrenta de um som do Beach Boys que eu já conhecia, aí
sim gostei. Nem lembro mais onde e quando que finalmente ouvi Darklands pela
primeira vez. Mas a música fazia jus à letra, felizmente.
O Jesus and Mary Chain veio ao
Brasil pela primeira vez em 1990; eu era muito adolescente ainda e fiquei
sabendo dessa vinda depois. Quando voltaram, já no século vinte e um, não me
animei, mas em 2014 resolvi assistir ao show deles no Memorial da América
Latina, no encerramento do Festival Cultura Inglesa. Estava tão perfeito que
começou a ficar robótico justamente em Blues From a Gun, som que flerta com a
eletrônica; então felizmente eles erraram feio uma música e tiveram que parar
na metade para reiniciá-la. Ao humanizarem o show, veio um momento mágico,
inesquecível para os presentes: justo quando começaram a tocar Happy When It
Rains caíram momentaneamente pingos de chuva que abrilhantaram o momento e não
estragaram o resto da apresentação.
Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade (Poços de Caldas) em 18 de novembro de 2017. É uma versão ampliada de "Jesus and Mary Chain, uma crônica sobre como foi se apaixonar pela banda nos anos oitenta", publicada aqui no blog em 13 de março de 2017.
Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade (Poços de Caldas) em 18 de novembro de 2017. É uma versão ampliada de "Jesus and Mary Chain, uma crônica sobre como foi se apaixonar pela banda nos anos oitenta", publicada aqui no blog em 13 de março de 2017.
The Jesus and Mary ao vivo com a Scarlet Johansson. Foto de Juan Bendana/Creative Commons. A original pode ser encontrada aqui. |
No comments:
Post a Comment