Jairo e
Juliano chegam à casa de shows, na verdade mais conhecida por abrigar arrasta-pés
na cidade interiorana, cujo calor derrete quem está à beira da piscina e ainda
mais os dois e todos os que estão na porta do lugar, um deserto de asfalto e
concreto. Ambos vestem preto e logo identificam seus pares.
- Aqui
que é o Tijuana Bar? Não tem placa...
- Opa!
Vamô quebra tudo com uns déti metal com nóis.
Apresentações
feitas, simpatia imediata.
- Então,
nós somos da banda de fora.
- Qual
banda? Eu sou um dos organizadores. Não lembro de banda de fora...
- Do Virgin's Immolation.
- Ah é! Mal aí, já virei um tubão. Cadê
os equipos d’ôces?
- Vamô lá
pegar.
Pardal
não perde as piadas no caminho. Sugere que Jairo e Juliano seria um bom nome
para uma dupla caipira e que não era para eles tocarem viola no show não. Os
dois riem, mas ficam putos por dentro.
- Ô Fabinho,
abre o portão aí pros meninos do Virge Amolação montar o palco – brinca Pardal.
É o jeito dele, pensam.
A cena
parece um hospital de campanha. Vários desfalecidos deitados no chão,
vomitados. E o show nem havia começado.
- Falaí, seus
poser!
Era Zé, o
único contato de Jairo e Juliano na cidade.
- Cê que
é um comedor de sucrilhos!; vociferam de volta, em uníssono.
Sentindo-se
mais à vontade, os dois enchem-se de expectativa. A bateria eletrônica é
plugada e devidamente programada. Eles não têm mais paciência com baterista;
está todo mundo velho, os amigos não dão mais conta de tocarem rápido.
Sobem ao
palco. Serão os primeiros a tocar, para poderem pegar estrada e voltar cedo.
Todo mundo trabalha na segunda de manhãzinha. Antes do primeiro acorde, chega a
polícia. Já era.
Estava cheio de adolescentes bêbados e o
comissariado não perdoou. O comissário ficou horrorizado. Disse que nunca havia
entrado num lugar que cheirasse tão mal. Com o calor, o cheiro de cecê vazava
pelas janelas. Jairo e Juliano venderam uma demo em fita, como antigamente.
Coisa do demo. Voltam felizes, apesar de tudo; missão cumprida.
Daniel
Souza Luz é jornalista e revisor
Este conto foi publicado no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) no dia 20 de outubro de 2018. É uma versão levemente reescrita do meu conto Os Verdadeiros Guerreiros da Verdade do Verdadeiro Metal, publicado aqui no blog em 26 de abril de 2015. O novo título é uma homenagem ao grupo pós punk Chrome, que tem uma música chamada Perfumed Metal, que nada tem a ver com heavy metal. O conto é inspirado em memórias de shows underground de metal que vi em Varginha, Mogi Mirim, Bauru e em especial no primeiro endereço do bar Califórnia e no Bailão do Toninho Norato (acho que era este o nome), ambos no centro de Poços de Caldas, ao longo da década passada.
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