O jornal
é de ontem, mas o texto não é mais o mesmo. Havia sido alterado. Como? Não
havia jeito, é papel, não há como aparecer um “atualizado às 18:48”, por
exemplo. No entanto, o acróstico desabonador não consta mais na matéria.
É que as
letras na verdade são pessoas. Elas haviam sido substituídas por jornalistas
mais novos, contratados como PJs, pois todos os sindicalizados foram mandados
embora. Entretanto, os jornalistas demitidos entram no texto, diante dos meus
olhos, e empurram para fora seus substitutos. Não obstante, o acróstico ainda
está falho. Resta uma letra trocada. Eu a localizo. É uma menininha de vestido
verde, não um adulto.
Rumo ao
encontro dela, dentro da página. Ao contrário dos jornalistas mais novos, que
saíram de seus postos, ela permanece no lugar. O início do parágrafo é um
pequeno morro; ao me aproximar, noto que ela se torna translúcida. Espectral.
Entro dentro dela. Uma voz doce ecoa na minha mente:
- Foi
você que me possuiu. Você é o fantasma.
Daniel Souza Luz é jornalista e
revisor
Sindicato dos Sonhos saiu no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) no dia 12 de outubro de 2018. É uma versão levemente reescrita do meu conto Dream Syndicate, publicado aqui no blog em 19 de julho de 2015. À época havia lido sobre um jornalista que ao sair da Folha de S. Paulo escreveu num obituário o acróstico "Chupa Folha". Acabei sonhando com isso, mas num contexto etéreo e confuso. Aproveitei para escrever um pequeno conto surrealista de inspiração onírica. Esta versão que reescrevi agrada-me muito mais. O título é uma homenagem à banda angelena, referência nos anos oitenta quando se falava em paisley underground.
Sindicato dos Sonhos saiu no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) no dia 12 de outubro de 2018. É uma versão levemente reescrita do meu conto Dream Syndicate, publicado aqui no blog em 19 de julho de 2015. À época havia lido sobre um jornalista que ao sair da Folha de S. Paulo escreveu num obituário o acróstico "Chupa Folha". Acabei sonhando com isso, mas num contexto etéreo e confuso. Aproveitei para escrever um pequeno conto surrealista de inspiração onírica. Esta versão que reescrevi agrada-me muito mais. O título é uma homenagem à banda angelena, referência nos anos oitenta quando se falava em paisley underground.
O conto na versão impressa do jornal. |
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