Bolinha
de gude.
Ele ainda
se apegava a essa lembrança, o seu Rosebud. Ela, alheia ao desconhecido ao
lado, lia mensagens no celular e ria de memes. Lembrou-se de quando leu uma
matéria a respeito de memética, sobre como era um assunto sério e lhe pareceu
tão interessante e cheio de possibilidades. Agora era só uma piada, como a vida
dela, obsoleta.
No ponto
de ônibus havia mais seis ou sete pessoas, espremidas, aguardando enquanto a
chuva apertava. A garganta dele apertou também, lembrando-se do futuro que
acalentava como se fosse um bebê sorridente, que lhe balbuciava promessas em
palavras ainda mal articuladas, mas plenamente reconhecíveis.
Quando o
ônibus chegou, esbarraram-se. Ele ofereceu-lhe o caminho com a mão; ela agradeceu
com um leve aceno de cabeça, desacompanhado de qualquer esboço de sorriso. A
meia dúzia esperando atrás e o motorista jamais saberão que eles namoraram por
um ano e meio. A história já os apagou e, portanto, não abarca mais a estória
deles, essa palavra arcaica, da qual ela jamais gostou e na qual ele ainda se
segura como um destroço à beira do redemoinho do presente, esperando ser
tragado para o passado abissal como um anacronismo do qual alguém ainda se
lembre com algum saudosismo.
Daniel Souza Luz é jornalista e revisor
Este conto foi publicado no fim da página dez no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em dois de novembro de 2018, abaixo de artigos do professor Hugo Pontes sobre o aniversário da cidade e do músico Aquiles Rique Reis (do MPB-4) sobre o sambista Monarco. Já havia publicado-o aqui no blog em 15 de março de 2015. Não o reescrevi, ao relê-lo não senti a necessidade de nenhuma revisão, tudo o que queria expressar sobre um relacionamento intenso que resulta em nada mais do que em ressentimento está dito.
Este conto foi publicado no fim da página dez no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em dois de novembro de 2018, abaixo de artigos do professor Hugo Pontes sobre o aniversário da cidade e do músico Aquiles Rique Reis (do MPB-4) sobre o sambista Monarco. Já havia publicado-o aqui no blog em 15 de março de 2015. Não o reescrevi, ao relê-lo não senti a necessidade de nenhuma revisão, tudo o que queria expressar sobre um relacionamento intenso que resulta em nada mais do que em ressentimento está dito.
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