Ele ainda se apegava a essa
lembrança, o seu Rosebud. Ela, alheia ao desconhecido ao lado, lia mensagens no
celular e ria de memes. Lembrou-se de quando leu uma matéria sobre memética,
sobre como era um assunto sério e lhe pareceu tão interessante e cheio de
possibilidades. Agora era só uma piada, como a vida dela, obsoleta.
No ponto de ônibus havia mais
seis ou sete pessoas, exprimidas, aguardando enquanto a chuva apertava. A
garganta dele apertou também, lembrando-se do futuro que acalentava como se
fosse um bebê sorridente, que lhe balbuciava promessas em palavras ainda mal
articuladas, mas plenamente reconhecíveis.
Quando o ônibus chegou,
esbarraram-se. Ele ofereceu-lhe o caminho com a mão; ela agradeceu com um leve
aceno de cabeça, desacompanhado de qualquer esboço de sorriso. A meia dúzia
esperando atrás e o motorista jamais saberão que eles namoraram por um ano e
meio. A história já os apagou e portanto não abarca mais a estória deles, essa
palavra arcaica, da qual ela jamais gostou e na qual ele ainda se segura como
um destroço à beira do redemoinho do presente, esperando ser tragado para o
passado abissal como um anacronismo do qual alguém ainda se lembre com algum
saudosismo.
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