André lustrava o carro, passando uma segunda mão de cera, no capricho, como sempre gostou. Vermelho Ferrari - ao menos na cabeça dele. Não bebia nessa hora, jamais. Estava com uma camisa pólo, começou a passar calor ao conversar com Carlos, seu vizinho de muitos anos. Carlos sempre foi cheio dos xavecos e convenceu André a participar da manifestação contra a corrupção. Disse que era contra a ditadura, mas a favor do impeachment. André pois-se a pensar; nunca acompanhara política, só achava que era corrupção demais, nunca ouviu falar tanto nisso, mas sempre ouviu falar.
Tá bom, tá bom. Topou. Foi em casa e trocou de roupa; pôs uma camisa da Ferrari, com o cavalinho discretamente empinado no peito. Se não era a favor da ditadura, que mal teria?
- Falaí, Carlinhos! - foram recepcionados com umas brejas que estavam em isopores na parte de trás de uma Hilux; estava muito quente.
André aproveitou pra encher o caneco. Notou que estava cheio das gatinhas e rolando bastante som. Parecia uma rave, quando amanhece, e no dia seguinte de um jogo do Brasil. Perfeito, se deu bem demais.
Perdeu-se de Carlos e, já bem alto, tanto quanto o som, começou a jogar ideia numa loirinha. Ela foi até que educada, ele insistiu, logo um sujeito ligeiramente maior que ele chegou intimando. Era o namorado dela.
- Olha aqui um comunista no meio da gente, o cara tá infiltrado, provocador!
Não houve tempo de explicar que a camisa era vermelha porque era da Ferrari. O sangue, de um vermelho conspurcante, corria pela rua.
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