My rating: 5 of 5 stars
Li de uma vez só. Na verdade, li em voz alta, para meu pai, que não enxerga quase mais nada. Contando o tempo de leitura do prefácio, que foi lido depois, também para ele, não levou mais do que três horas. Já tínhamos assistido ao filme dirigido pelo Guel Arraes há uns dez anos, à época passou batido para mim; acho que meus familiares já tinham visto até antes, quando foi exibido em forma de minissérie. O texto é muito prazeroso de ser lido em voz alta, afinal foi concebido para o teatro. O que chamou minha atenção, em primeiro lugar, foram as referências das histórias populares que Suassuna cita no preâmbulo; apesar dele ser cristão e conservador, ele não tem pejo em usar passagens escatológicas e me parecem que bem blasfemas, pois também abordam traição e sexo. O ótimo prefácio, de Henrique Oscar, traça as origens disto em textos medievais, nas quais Nossa Senhora também tem papel fundamental na salvação de almas. Ou seja, pode escandalizar carolas, mas é uma obra fundada em narrativas católicas populares que refletem a profunda religiosidade do autor. Outro aspecto que me chamou a atenção é que no livro João Grilo é mais violento e maquiavélico do que me lembro dele ser no filme; parece-me bem normal isto ter sido atenuado no roteiro, pois dificultaria a identificação do público com o personagem. Enfim, um livro divertidíssimo, rápido de ser lido e que não é uma leitura superficial, pelo contrário, também há reflexões assertivas e precisas sobre racismo e gênero, uma surpresa enorme vinda de um autor assumidamente conservador.
Daniel Souza Luz
Texto que escrevi para a rede social Good Reads.
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