Elas confiam em mim. Não deveriam. Fico apreensivo e erro; erros que podem se tornar tragédias. Visualizo. Olhos vazados, ossos quebrados, talvez intestinos perfurados. Mesmo quando erro e o skate zune próximo a elas, no máximo levantam-se, recuam brevemente e logo voltam para perto de mim. Tranco-as dentro de casa, mas não adianta muito, a gatinha mais nova sempre dá um jeito de escapar e ficar ao meu lado. Gosto demais dela. Tanto por preguiça minha em alertá-la novamente para sair de perto de mim, quanto por preguiça dela, que adora ficar refestelada ao sol acompanhando-me, ollies particularmente altos aterrissam estalados ao lado das pernas dela, que não se assusta com o barulho – ela nem sequer se mexe. Solto as cachorras e deixo que todas me façam companhia, bem-vinda ao fim das contas. Vou afastando-as, elas voltam, e assim vai. Deixei de ficar nervoso ao ser observado e torno-me um skatista melhor. O skate, às vezes, escapa e rasga o ar a milímetros delas. As bordas desgastadas estão parecendo facas, sem muito corte, é verdade, mas é o suficiente para talharem a minha pele mesmo quando batem de leve. Nada nunca acontece com elas, na real, mas não é que não possa acontecer. É que não quero sair de perto de casa. JFA, Minor Threat, Brujeria, Poison Idea, Mzuri Sana, Parteum, Paura, Bad Brains, Jesu, Nação Zumbi, Zeni Geva, Toasters, Alice Donut, Citizen Fish, Crass, sempre alto, um atrás do outro, no fim de tarde, sol fraco e bom, tomando suco de laranja e bem acompanhado. Lendo as velhas Chicletes com Banana em um ou outro intervalo em que a respiração fica pesada, rindo do Furio Lonza falando mal de skate. Os moleques do quarteirão ao lado aparecem com skates debaixo do braço e começamos a montar uma rampinha para subirmos no muro de casa. Nenhum namoro nunca foi tão bom assim. É que elas não confiam em mim. Deveriam. Também só as conduziria a fazermos essas fitas da hora. E outras mais ainda, claro. Só que elas teriam que confiar em mim. De qualquer forma, gosto de todas elas. Principalmente das gatinhas e das cadelas. É uma pena que não dá para mantê-las em casa.
Sunday, August 03, 2008
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