Sunday, May 31, 2009

Enfim parte 9

- O que foi? Tá bravinho por quê? Tinha furos suficientes no saco para você respirar bem até tiramos as caixas de som do tampo para você ficar em um ambiente bem ventilado você não fazia o mesmo por seus cativos... tudo isto ainda é POUCO – berra meu irmão com um fôlego só, caracteristicamente jorrando palavras e titubeando ao fim.
Finalmente, o silver tape é retirado da boca do traste, que não se faz de rogado.
- Filho da puta, filho da puta. Você é mesmo um, literalmente, seu filho da puta. FI - LHO DA PU - TA. Nós descobrimos, enquanto investigávamos seu pai, que sua mãe se envolveu com ele já grávida de um caixeiro viajante que desapareceu. Por que você acha que a data do casamento deles só precede em seis meses o seu nascimento?
Meto uma bica nas costas do desgraçado. Quando ia repetir o gesto, meu irmão pede para me conter. Nem assim, o velho se cala.
Continua...

Sunday, May 24, 2009

Enfim parte 8

Eu abro o nó. É só. Júnior toma todas as demais iniciativas. Retira-o do saco. Remove as cordas dos pés e pernas, mantendo as mãos amarradas. O velho arfava muito enquanto embalagem. Agora, parece mais calmo, respirando pausadamente, fitando-nos desafiadoramente com apenas um olho. O outro está semicerrado, banhado em sangue. O supercílio deve ter sido aberto em meio aos pulos da jornada. Os braços estão com alguns hematomas, e as pernas, pelo que observei, estão roxas. Ele pode ver apenas os braços, nos quais acaba de pousar os olhos.
Continua...

Sunday, May 17, 2009

Enfim parte 7

Não precisei esperar muito. A sede da mineração. Não há mais como prosseguir de carro. Um enorme tronco se interpõe entre nós e a entrada. Prosseguiremos a pé.
Lá está o saco de estopa no porta malas. Fico olhando para os lados, o tampo traseiro aberto. Fomos precipitados. Júnior dá uma volta, faz o reconhecimento da área, verifica que o local está realmente abandonado.
Não tenho coragem de carregar o saco. Júnior o arrasta como se fosse um cobertorzinho sujo, sem qualquer consideração, se preocupando mais com o facão na outra mão, admirando o seu corte. Quase sinto pena. A casinha ainda tem a placa da mineradora, entretanto submergiu na vegetação, crescente entre os assoalhos.
Continua...

Sunday, May 10, 2009

Enfim parte 6

Agora sigo no banco de carona. Já tive muito braço de chegar aonde cheguei. Meu irmão tem mais. A velha estrada parece mais impenetrável, mas ele vai mais célere do que eu. Chacoalho ininterruptamente; peixes de aquário rodopiando em um tornado e sendo socados contra o vidro conheceriam a sensação. O que me faz lembrar da nossa carga. Pergunto se não deve chegar inteira até nosso destino. Ele permanece impassível, concentrado nos obstáculos. Responde um minuto depois.
- É melhor que não chegue intacta, pense bem.
Não discuto. Só espero que conservemos sua utilidade.
Continua...

Sunday, May 03, 2009

Enfim parte 5

A mesma cena se repete desde que tínhamos uns dez e onze anos, respectivamente. Uma orca sobe o chão e me puxa para o fundo antes que esta presa fácil possa esboçar uma reação. Uns socos na banha acabam por ter efeito de cócegas. Damos risadas batendo os queixos.

- Se movimente na água, não pare de nadar.

Obedeço por uns minutos, até quando deixa de ser divertido.

- O que foi?

- Estava pensando em todos os momentos que podiam ser como este, e que nos foram roubados.

Hora de prosseguir. Ele enfia bruscamente as toalhas encharcadas de volta na mochila. Sinal de que devo pôr de volta, e o mais rápido possível, as roupas suadas.

Continua...