O jornal é de ontem, mas o texto
não é mais o mesmo. Havia sido alterado. Como? Não havia jeito, é papel, não há
como aparecer um “atualizado às 18:48”, por exemplo. No entanto, o acróstico desabonador
não consta mais na matéria.
É que as letras na verdade são
pessoas. Elas haviam sido substituídas por jornalistas mais novos, contratados
como PJs, pois todos os sindicalizados foram mandados embora. Entretanto, os
jornalistas demitidos entram no texto, diante dos meus olhos, e empurram para
fora seus substitutos. Não obstante, o acróstico ainda está falho. Resta uma letra trocada. Eu a localizo. É uma menininha de vestido verde, não um
adulto.
Rumo ao encontro dela, dentro da
página. Ao contrário dos jornalistas mais novos, que saíram de seus postos, ela
permanece no lugar. O início do parágrafo é um pequeno morro; ao me aproximar,
noto que ela é translúcida. Fantasma. Entro dentro dela. Uma voz doce ecoa na
minha mente:
- Foi você que me possuiu. Você é
o fantasma.
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