Disse tanto que ia ao show do
Young Gods na Virada Cultura de 2016 e não fui. O show deles seria junto com a
Nação Zumbi. Mistura insólita, uma banda
industrial suíça dos anos oitenta com uma banda mangue beat pernambucana.
Quando mencionava o show para quem conhece ambas as bandas as reações eram de
completa surpresa. Surpreendente é, mas não fiquei atônito. Franz Treichler, do
Young Gods, morava no Brasil no fim dos anos noventa (talvez ainda more, não
sei). Lembro-me bem de uma entrevista dele para o Fábio Massari à época, no
Lado B da MTV, na qual ele falava sobre isso – em bom português. Uma banda
lendária, que queria demais ver.
A Virada Cultural de 2016, para
mim, foi principalmente barulho – mas diferente do dos Young Gods. Começou com
um show de grindcore num evento independente, pago, numa casa de shows
(literalmente, no caso do palco) underground chamada Morfeus. Lá vi bandas com
nomes sugestivos como Xico Picadinho e principalmente o Facada, banda cearense
de grindcore, possivelmente a melhor no estilo no país. Assisti de pertinho e
poguei muito, ou seja, diversão total para mim. Não bastassem as músicas deles,
tocaram uma versão de uma das minhas músicas favoritas do Bad Brains, Sailin’
On. No dia seguinte, devido a isso, fiquei rouco – felizmente rouco.
Eu só havia visto uns poucos
shows no famoso palco Test, em 2013 (quando ele era um evento de rua paralelo à
Virada, totalmente independente) e mais alguns em 2015, quando uma banda de hardcore
de um amigo, o Birão, chamada Sociopata, tocou na hora do almoço. Agora
finalmente pude ver muitas bandas de grind/noise/HC de uma vez só – um segundo
show do Facada na mesma noite, Rakta (já havia visto dois shows delas no
passado, gosto muito; foi sem guitarra e com um cara na bateria), RG Noise
City, Miazzo, uma banda engraçada chamada Os Capial – de Araraquara, vestidos
como caipiras estereotipados, mas deixando claro que não era por desprezo à
cultura caipira – e vários pedaços de shows.
Um dos melhores fatos da noite
foi que o palco Test mudou de lugar e voltou a ser perto do palco Rio Branco.
Não queria andar para longe e correr o risco de ser assaltado. Então finalmente
pude ver um show de uma de minhas bandas brasileiras favoritas, o Violeta de
Outono. É uma clássica banda pós punk dos anos oitenta, única, com influências
de psicodelismo e progressivo – elementos estranhos às bandas do estilo. Não
tocaram músicas da época, só uma de uma fase intermediária. As músicas novas
são muito voltadas ao rock progressivo. Tudo bem, não pararam no tempo. Mas
quase dormi em pé – e isso não é figura de linguagem. O que não deixou de ser
uma experiência interessante, pois comecei a sonhar de pé e vi uma mulher subir
no palco e correr em direção à banda. Não havia mulher alguma, despertei em
segundos, assustado por ter quase dormido, e fiquei olhando extático para o
palco. Só os músicos estavam tocando, óbvio, sem incidentes. Não é todo mundo
que tem direito a ter uma experiência psicodélica sem usar drogas – e eu tive!
Depois de vagar algum tempo vendo
mais bandas de barulho e barulho, já estava quase dormindo de novo. Então, já
de dia, começou o show do D.E.R., uma banda da qual gosto. Como nada estava me
tirando muito do estado meio zumbi, não esperava muita coisa do show deles.
Ledo engano. Foi só o show deles começar que eu despertei. Uma injeção de
adrenalina! Ao vivo, na minha cara. Uma pancadaria impressionante – e se digo
que é impressionante, podem ter certeza que foi, pois tinha visto inúmeras ao
longo da noite e não era para estar impressionado.
Antes do show do D.E.R. terminar
meus amigos que estavam comigo pediram arrego e olha que quem ama mesmo
grindcore são eles – eu só gosto muito e estava empolgadíssimo, apesar de ter
mais do que o dobro da idade deles. Eles são muito jovens, não sabiam andar em
São Paulo, nem andar de metrô. Tive que levá-los à rodoviária. Chegando lá,
achei que resistiria e voltaria para a Virada. Dei uma de ateu e deixei de
acreditar nos Jovens Deuses. Deixei-me vencer pelo cansaço, comprei a passagem
de volta e dormi. Satisfeito.
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