Morei brevemente em São Paulo em
1995 para fazer uma faculdade que logo abandonei, pois passei na segunda chamada,
pouco depois, do curso de jornalismo da Unesp de Bauru. Morava na República,
perto da Galeria do Rock, onde costuma ir quase todos os dias. Eu tinha dois CDs
do Black Flag e queria mais. Vi o single de Nervous Breakdown numa loja. Pedi
para o balconista, um garoto negro, de óculos, bastante expansivo, pegar o CD
para mim, pois iria comprá-lo. Ele se recusa. Seguiu-se um diálogo mais ou
menos assim.
- Não cara, você conhece
Minutemen?
- Conheço de nome.
- Minutemen é muito melhor do que
Black Flag. É da mesma turma, da mesma gravadora, a SST.
- A gravadora do Greg Ginn, do
Black Flag.
- Sim, mas esquece Black Flag,
cara! Minutemen é muito mais criativo. Compra o disco deles. Você tá marcando.
É a mesma pegada, só que melhor, muito mais inteligente. Melhor banda dos anos oitenta.
- Legal, mas...
- Para de bobeira. Você vai fazer
o melhor negócio da sua vida. Leva o CD do Minutemen, você vai gostar muito
mais e...
Somos interrompidos antes de ele
pôr o CD para tocar e tentar me convencer. Uma assistente social entra na loja
e chama o balconista pelo nome, do qual não me recordo mais. Ela abre uma
pasta, diz que precisa conversar com ele sobre o cumprimento da medida; imagino
que de um ato infracional, embora ele não parecesse tão adolescente, mas sim
alguém com uns vinte anos. Aproveitei a deixa para cair fora. Achei o tão
almejado single de Nervous Breakdown em outro estabelecimento. Queria porque
queria. Só fui ouvir o Minutemen uns dois anos depois. Época de recursos
limitados e sem acesso à internet. É uma banda tão fascinante quanto o Black
Flag mesmo, embora não pareça tanto assim. O Black Flag me marcou mais, conheci
antes, mas gosto quase tanto quanto. Talvez Minutemen seja melhor mesmo e
aquele garoto estivesse certo, no entanto. Mas há muito espaço no meu coração
para ambas as bandas.
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