Paula lambia-se como se fosse uma gata. Metaforicamente ela é, mas
também, neste caso, literalmente. Sabia que não tinha lógica, mas é um hábito
de criança do qual não consegue se livrar. Finalmente em casa, depois de um
banho e do almoço, morrendo de sono em frente à TV, sol a pino e sabendo-se
privilegiada por estar naquele quarto fresco, todo bege e bem ventilado, Paula
lambe-se e arrepia-se consigo mesma, sua melhor companhia, ainda que não
considere dispensáveis as demais.
Contorce-se na medida do possível, estendendo a língua onde aprendeu que era bom pô-la, até que se aconchega no edredom e, antes de apagar, pensa brevemente em ser contorcionista de verdade. Quando acorda, ao fim da tarde, o sol já amigável, ela espreguiça-se pacientemente e sai para caçar.
Daniel Souza Luz é
jornalista e revisorContorce-se na medida do possível, estendendo a língua onde aprendeu que era bom pô-la, até que se aconchega no edredom e, antes de apagar, pensa brevemente em ser contorcionista de verdade. Quando acorda, ao fim da tarde, o sol já amigável, ela espreguiça-se pacientemente e sai para caçar.
Gatinha foi publicada no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em 23 de fevereiro de 2019. É uma versão retrabalhada de um conto de mesmo nome, publicado aqui no blog em 10 de setembro de 2007. É conto lascivo, mas não chega a ser literatura erótica, creio. Esta versão difere também da versão que saiu no jornal, pois a revisei e corrigi um erro de conjugação verbal.
Gatinha foi publicado no meio da página oito, à esquerda, da edição 6985 do Jornal da Cidade. |
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