Nada do que ela disse me impressionou mais do que confessar que já teve
um relacionamento com outra mulher. Ela sempre foi muito conservadora. E me diz
algo assim com a maior naturalidade. Tão arrogante, tão provinciana, tão
preocupada em aparecer nas colunas sociais da sua cidadezinha. Adorava figurar
ao lado das velhas carolas, “damas de caridade”, ciosas de seu marketing
pessoal. Ela expulsou a filha de casa porque a menina tinha assumido o namoro
com uma menininha ainda mais nova. Tentei tomar as mãos dela entre as minhas
para alentá-la, mas ela já havia levantado para atender a ligação do marido. O
celular tinha um toque específico, uma música do Franz Ferdinand, Michael, que
identificava o número dele. Guiada pela coleira eletrônica, desabou escada
abaixo. Imediatamente vestiu sua máscara, para nunca mais tirá-la.
Daniel Souza Luz é jornalista e revisor
Será que dá tempo? foi publicado no dia nove de fevereiro de 2019 no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG). É uma versão retrabalhada do primeiro conto publicado neste blog, em três de janeiro de 2007. Mesmo em relação à versão publicada no jornal, fiz uma pequena alteração aqui, substituindo a palavra "aparelho" por "número" na frase em que falo do toque no celular, o que também foi uma mudança que fiz no original: incluí a citação da música do Franz Ferdinand, pois é um som que caracteriza bem aquela década e que de quebra ainda forneceu o nome de um personagem.
Será que dá tempo? foi publicado no dia nove de fevereiro de 2019 no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG). É uma versão retrabalhada do primeiro conto publicado neste blog, em três de janeiro de 2007. Mesmo em relação à versão publicada no jornal, fiz uma pequena alteração aqui, substituindo a palavra "aparelho" por "número" na frase em que falo do toque no celular, o que também foi uma mudança que fiz no original: incluí a citação da música do Franz Ferdinand, pois é um som que caracteriza bem aquela década e que de quebra ainda forneceu o nome de um personagem.
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