Thursday, February 07, 2019

Memento Mori

Com o tempo se aproximando, sentiu-se petrificado. Não conseguia se mover. Vivendo fora do tempo, isso soa natural, mas não é. Ele ganhou algumas semanas de existência fugaz para compensar os dez anos de quase olvido. Dez anos existindo apenas durante as noites e madrugadas, por alguns poucos segundos, no máximo minutos. Enquanto ela sonhava. Surpreso, às vezes via-se consciente aos sábados ou domingos durante as tardes. Uma vez ela caiu doente e encontraram-se às onze e pouco da manhã de uma terça-feira, por meros quatro segundos, enquanto ela cochilava. Ele prolongava os sonhos dela sempre que podia, conversando, convencendo-a, ou tentando convencê-la, de que era real. Enquanto isso seu corpo envelhecia, mas ele era o mesmo de dez anos antes no fluir etéreo. Finalmente despertou do coma. Mudo e paralisado, não consegue explicar para ela que era tudo verdade. Ele espera que ela note sua ausência onírica.

Daniel Souza Luz é jornalista e revisor

Memento Mori foi publicado no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em dois de fevereiro de 2019. Já o havia publicado aqui no blog em 09/06/2008, mas o reescrevi para publicá-lo no jornal, porque o original me pareceu ruim ao relê-lo, embora a ideia que tive, tangenciando a literatura fantástica, continue aprazendo-me. Em relação à publicação no jornal, nesta versão ainda grafei por extenso o numeral 4, algo que não consertei a tempo antes do enviá-lo ao editor João Gabriel Pinheiro Chagas.  


Memento Mori saiu no canto inferior esquerdo da página oito da edição 6970 do Jornal da Cidade

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