Sobe na mesa. Bêbado, mas com o discurso decorado: "Senhoras e
senhores, preciso da atenção de vocês. Existe algo tão chato quanto neguinho
metido a politicamente correto: os malas do politicamente incorreto. Burros,
todos eles. Os primeiros não reconhecem uma das maiores qualidades de nós,
seres humanos, que é a capacidade de sermos contraditórios. Vejam bem, não
estou dizendo que é legal ser hipócrita, apenas estou dizendo que se não fosse
assim não suportaríamos a angústia. Não rola, esse mundo é filho da puta
demais. Não, peraí, eu vou falar, tô à pampa aqui, fica de boa aí também, é
rapidinho. Então, os segundos são metidos a espertinhos e para disfarçar a
falta de escrúpulos e seus preconceitos escrotos dão uma de rebeldes, clamando
contra a opressão do politicamente correto, enquanto na verdade querem que tudo
seja a mesma merda que sempre foi. Fazer o contrário para fazer o que sempre se
fez. É muita cretinice. Peraí, já vou descer. São esses estereótipos ambulantes
que existem. Esses são os que acham que pensam, mas tem nojo dos livres
pensadores como eu. Os outros gostam de patrulhinhas mesmo, é verdade. A
palavra viado, por exemplo. Viado pra mim é sinônimo de babaca, quando eu era
um ninquinho de gente eu chamava os outros de viado porque era um xingamento
legal, nunca ia imaginar que viado era o que é! Podem vaiar. Não é por mal nem
por preconceito. Enfim, tem alguma gostosa aí a fim de levar um papo
legal?"
Dito isso, ganha uma latinha de cerveja cheia na testa.
Dito isso, ganha uma latinha de cerveja cheia na testa.
Daniel Souza Luz é jornalista e revisor
Este conto foi publicado no Jornal da Cidade em 26 de janeiro de 2019. Fora originalmente publicado no fanzine Embrulho de Banana número 15, em julho de 2007. Foi revisado pela editora, Camila Conti, ou por colaborador chamado Marco, salvo engano. Só faltava uma crase no texto original, pelo o que lembro. Perdi o contato com a Camila e com a Valquíria Lopes Rabelo, outra colaboradora do zine; conversava com ambas por e-mail e jamais as encontrei pessoalmente. Já o havia publicado aqui no blog em agosto de 2008, mas dando uma informação equivocada: que sairia no número 14 do zine - tenho uma cópia do número 15, a edição final do Embrulho. Fiquei surpreso relendo esta postagem antiga, não me lembrava que era a reelaboração de um velho texto meu. De qualquer forma, na postagem de 2008 o texto também está inalterado, tal como a versão que saiu no jornal.
Este conto foi publicado no Jornal da Cidade em 26 de janeiro de 2019. Fora originalmente publicado no fanzine Embrulho de Banana número 15, em julho de 2007. Foi revisado pela editora, Camila Conti, ou por colaborador chamado Marco, salvo engano. Só faltava uma crase no texto original, pelo o que lembro. Perdi o contato com a Camila e com a Valquíria Lopes Rabelo, outra colaboradora do zine; conversava com ambas por e-mail e jamais as encontrei pessoalmente. Já o havia publicado aqui no blog em agosto de 2008, mas dando uma informação equivocada: que sairia no número 14 do zine - tenho uma cópia do número 15, a edição final do Embrulho. Fiquei surpreso relendo esta postagem antiga, não me lembrava que era a reelaboração de um velho texto meu. De qualquer forma, na postagem de 2008 o texto também está inalterado, tal como a versão que saiu no jornal.
Discurso de Boteco no alto da página oito da edição 6965 do Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG). |
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