Conforme
lia este livro de crônicas, que foi presente de uma amiga, dei-me conta de que
já havia começado a lê-lo nos anos noventa, quando o comprei numa livraria no
campus da Unesp em Bauru, esperançoso de ter uma ótima leitura, dada a
reputação do Saramago. Mas detestei-o e o deixei de lado. Esqueci-me dele de
tal forma que não me lembrava mais do título e, como a reedição tem uma capa
muito diferente da edição original que adquiri em 1996, de um lindo roxo brilhoso, não percebi de imediato que passei a ter duas edições diferentes da
mesma obra. Lendo-o agora, tendo mais paciência, devido à idade, notei que não
é tão ruim assim. Apesar da frustrada primeira experiência, não fiquei com
nenhum ranço do Saramago; naquela década mesmo, ainda jovem, li O Conto da Ilha
Desconhecida e achei ótimo. Meu problema com este livro é que as crônicas
brasileiras são ótimas, uma tradição que provavelmente é inigualável. Saramago,
português nobelizado, tem a mão pesada demais para o gênero. Ele diz que tem um
tom "doce-amargo" nas suas crônicas; balela, são apenas amargas mesmo
e, principalmente, maçantes. Há algumas lindíssimas (A minha subida ao
Evereste, As terras, Os portões que dão para onde?) e lê-se o livro na
expectativa de que outros momentos sublimes como estes se repitam em meio a
tantos queixumes chatíssimos, mas eles não vêm, não vêm. Felizmente, valeu a
pena chegar ao fim: a última, A perfeita viagem, é tão inspirada quanto aquelas
que me encantaram.
Esta resenha foi publicada no Jornal da
Cidade (Poços de Caldas/MG) em 17 de abril de 2021. Originalmente foi escrita
para o Good Reads. Eu a adaptei para sair no jornal, o texto foi revisado pela
Juliana Gandra. Esta é a versão final, com mais uma revisão, feita por mim
mesmo. É o mesmo texto do jornal, com uma pequena correção para que uma frase
ficasse mais compreensível.
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