Resenha publicada originalmente no Good Reads em dezembro de 2019; reescrevi e ampliei para publicação no Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) em 29 de maio de 2021. O texto foi revisado pela Juliana Gandra e ainda inseri uma informação na última linha, após a publicação no jornal: a data da publicação original do livro.
Ótimo livro sobre objeção de consciência. Maria Lacerda de Moura nasceu
em Manhuaçu, Minas Gerais (não que isso importe para uma anarquista), e faria
134 anos neste mês, caso isso fosse possível para a espécie humana. O ponto de
vista anárquico e antibélico da autora rejeita tanto o feminismo liberal, que
defende que mulheres também integrem as forças armadas, quanto o feminismo
comunista de Alexandra Kollontai, que sustenta que as mulheres tomem parte do
aparato bélico para que se instale a ditadura do proletariado. Diga-se de
passagem, isto não consta no livro, mas Kollontai abandonou os ideais
feministas de outubro de 1917 e apoiou o reacionarismo de Stalin, que passou a
proibir o aborto e cancelou outras conquistas femininas da revolução. O
conteúdo do livro na verdade é a transcrição de uma conferência de Maria
Lacerda de Moura, proferida em dezembro de 1932, à semelhança de Por Que Não
Sou Cristão, de Bertrand Russell. O feminismo libertário de Maria Lacerda é
impiedoso com mulheres que transigem com o militarismo, imputando o fato à educação
conformadora que as fazem enxergar-se em papel subalterno a ponto de defender
esta função. A argumentação é muito sólida, a despeito do caráter panfletário.
O livro inclui dois artigos posteriores para o jornal santista A Tribuna, por
isso tem o subtítulo "(e outros escritos...)", mas sem a mesma verve.
De qualquer forma, são importantíssimos registros históricos. Espero que algum
dia o livro seja reeditado com a nova ortografia e uma revisão mais caprichada.
Não há crase alguma, por exemplo, e mistura-se a grafia da época com a então
vigente antes da reforma que entrou em vigor em 2009, pois foi editado pela
pequena editora anarquista Opúsculo Libertário em 1999 (e publicado originalmente em 1933).
Daniel Souza Luz é professor, escritor, revisor e jornalista
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