Esta crônica é uma ampliação da minha micrônica 1992, de 2017. Foi publicada no Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG), em 07/08/2021, revisada por mim mesmo. Para a publicação aqui, foi revisada pela Juliana Gandra.
Depois de algum tempo
comprando discos em sebos, li uma crítica do já falecido jornalista Celso Pucci
na revista Bizz e resolvi comprar o então recém-lançado Dirty, do Sonic Youth,
em 1992. Dias atrás li que no mês passado fez 29 anos do lançamento. Lembro até
hoje de voltar feliz para casa, com o vinil duplo, novinho, debaixo do braço, e
encontrar uma colega de escola, a Maria Fernanda (que nunca mais vi), na praça.
Eu estava caminhando também para o fim do ensino médio. Mostrei o disco, ela
não conhecia, mas todo mundo sabia já quem era o Nirvana, então bastou explicar
que era um grupo que os tinha influenciado. Conheci o Sonic Youth de ler a
respeito no fim dos anos 1980 e os ouvi pela primeira vez em 1990, quando o Kid
Vinil passou o clipe de Silver Rocket na TV Cultura. Era uma pancada como nunca
havia ouvido antes; parecia hardcore, mas era muito mais barulhento e sujo do
que bandas do estilo à época, que estavam muito próximas do thrash metal. Por
isso, me decepcionei quando peguei a fitinha do disco Goo, que era daquele ano,
com um amigo, o Jorge Nunes – cujo pai foi o primeiro dono da Agência Playboy,
banca já extinta onde comprei muitas HQs e livros. Foi quando percebi que eles
não eram uma banda de hardcore punk, como o clipe sugeria. Mas havia adorado o
clipe de Dirty Boots, o som que abre Goo, que o Kid Vinil também exibira dois
anos antes. O disco de 1992, que parecia fazer referência à música de 1990, me
desceu muito melhor. O vinil tinha uma música a mais do que o CD, informação
que constava na resenha do Celso Pucci, e por isso optei por comprá-lo. Ouvi o
disco, maravilhado. Eles não tinham se “nirvanizado”, como apontou Pucci. Eram
músicas bucólicas, ou barulhentas, ou caóticas, ou bem engendradas. Stalker, a
música-bônus, tem um fim com uma frequência de som tão alta que estourou a
caixa de som do aparelho da sala logo na primeira vez que a ouvi. Fiquei quieto
a respeito, para não tomar bronca dos meus pais. E por 26 anos esse aparelho
funcionou com apenas uma caixa, até pifar de vez. Já o vinil duplo de Dirty
tenho até hoje e ainda o escuto. Mas, calejado, tomo o cuidado de abaixar o som
no final fatídico de Stalker.
Daniel Souza Luz é revisor,
jornalista, professor e escritor
Foto que tirei em 21 de outubro de 2017, data em que publiquei a micrônica 1992 nas minhas redes sociais. |
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