Monday, August 16, 2021

Para Philip Roth

Esta crônica foi publicada em 14 de julho de 2021 no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG). É uma versão retrabalhada da minha micrônica 2207, publicada em 24 de maio de 2018, dois dias após a morte de Philip Roth - soube do falecimento dele no dia anterior. Mantive a dedicatória, como se fosse um título, por pura preguiça. 

Em 1995, quando cursava o primeiro ano de Jornalismo na Unesp, no campus de Bauru, saí para um rolê no intervalo das aulas e fui parar na Banca do Itamar, que na verdade era uma livraria que ficava entre os blocos das salas de aula. Uma galera da minha turma notou que havia livros em promoção por valores irrisórios. Se bem me lembro, foi um amigo chamado William Cardoso, hoje repórter do jornal Agora, que pôs fogo em nós para que colássemos lá. Em meio à pilha de livros, não tão substanciosa assim, com preços promocionais, encontrei lá uma edição de O Complexo de Portnoy, lançada no Brasil, salvo engano, nos anos 1980. Já havia lido sobre o Philip Roth e me interessei. O livro custou apenas um real. Sempre disse que foi o melhor negócio da minha vida. Paguei com aquelas notas de real que nem existem mais. Ao contrário do que faço hoje, devorei o livro pouco depois de comprá-lo. Adorei-o. Até ler O Rei de Havana, de Pedro Juan Gutiérrez, era o melhor final que já havia saboreado na literatura. É curioso: ser um homem branco (ao menos aqui no Brasil; na gringa eu seria tido como latino) e heterossexual como Roth fez com que, até emprestar o livro para uma ex, não me desse conta do quão machista é o narrador. Embarquei na psique distorcida do protagonista e apenas me diverti ou fiquei embasbacado, mas nunca de fato chocado. O que também é fruto da minha imaturidade à época, com certeza. É uma obra-prima tão bem escrita que não li nenhum outro livro de Roth nos próximos 25 anos. Achava que nenhum estaria à altura. Ledo engano, no ano passado li Indignação e o próximo livro que encararei será o canto do cisne dele – Roth morreu em 2018. Sempre pode haver mudanças de percurso, no entanto. Mas provavelmente será. Aguardem uma resenha. Ou não.

Daniel Souza Luz é revisor, professor, jornalista e escritor


Philip Roth em 1973. Foto de Nancy Crampton, já em domínio público.




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