Wednesday, January 17, 2007

Cinza

Segunda-feira fria como se fosse inverno, em pleno verão. O congelador da geladeira de São Pedro está vazando para gelar nossos rabos nas ruas. Deus deve estar querendo que realmente sejamos gratos por nossos trabalhos, tal qual pedem as correntes que irrompem aos borbotões as nossas caixas de e-mail, pois pelo menos estamos enfurnados em um escritório quente, longe da rua. Enquanto tenho esses pensamentos cretinos, que fariam meus avós sentirem-se tristes por eu ser tão desrespeitoso com que eles tanto valorizam, resolvo me rebelar e descer para tomar um café na padaria que fica uma boa chuva de molhar bobo adiante. E assim vou fingindo que me rebelo contra algo.
Rua abaixo, topo com a filha do Luck Luque, que me diz um simpático "oi!", para minha total surpresa. Quando retribuo o cumprimento, ela já passou por mim. Ela deve ter escutado, mas definitivamente devo parecer gagá. Pena que certamente não o sou de fato, pois senão estaria agora em casa recebendo papinha de colherzinha na boca. É, acho que estou merecendo levar um chute, só fico pensando essas merdas. Pelo menos está tocando Cretin Family na minha cabeça. Oi! Oi! Oi!
A dona da padaria insiste que eu não preciso pagar o café. Tudo bem para ela, eles iam acabar me voltando troco a mais, lesados do jeito que são. Este logro de que temos alguns privilégios é tão pequeno quanto eficiente para nos fazer acreditar que ganhamos o dia, ou que somos de alguma forma especiais, mas não caio nessa.

1 comment:

Anonymous said...

Se vc fosse solteiro, eu iria sugerir de você levar a filha do Luck Luque pra tomar uma café di grátis. E se ela fosse pitchula, claro... curti a intertextualidade com o que já rolou anteriormente.