Distraído, na verdade preocupado com a chuva que vejo cavalgando morros a toda brida uns dois quilômetros adiante, quase não a vejo passar reto. Com certeza, ela não estava interessada em mim. Júnior. Claro, não a chamava assim às claras. É que ela tem o mesmo nome da mãe, que engravidou quando tínhamos quinze anos. A minha maior decepção adolescente; fiquei tão enojado por ela não ter correspondido minha ilusão não-verbalizada de termos nossa primeira vez juntos que esperei uma década e meia para finalmente tê-la em meus braços e logo perdê-la novamente, poucas semanas depois. Nunca contou para mim nem para ninguém quem era o pai da menina. Dizia que apenas os pais dela saberiam quem era, além de, talvez, os avós paternos. Nunca entendi o porquê. Como também tinha quinze anos à época, perguntei se a menina se chamaria Patrícia Júnior. Ela se conteve e riu o mais discretamente que pôde, para não me humilhar, esperando os colegas de sala que comiam lanche ao lado saírem de perto para então me explicar que o sobrenome Júnior só servia para homens. Ter contato com Júnior treze anos depois e contar que fui o primeiro a saber a respeito da existência dela, além dos pais, provocou um efeito estranho na menina. Nestes dois anos, desde o episódio, ela evitava-me deliberadamente. Não teria nada demais, mas ser rejeitado por mãe e filha adolescente com intervalo de poucos dias doeu. Afetar intimidade com quem não conhecemos ao supor que exista uma ligação sentimental – como muitas vezes fizeram conosco parentes distantes e, pior ainda, os compadres e comadres de nossos pais – é uma cagada que só não provoca aversão em invertebrados.
Tuesday, January 09, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
Pura viagem...
Post a Comment