Foi em 1989. Estava andando com um disco do GBH debaixo do braço e o mecânico que morava na rua de baixo me chamou e pediu para ver o disco. Um urso tatuado e mal-humorado, ele nunca tinha olhado na minha cara, mas de repente ficou mais bonzinho. Na oficina dele, na qual baixava de skate com meus primos e o pessoal da rua, ouvi pela primeira vez Exploited, Dead Kennedys, Circle Jerks, Cólera, Inocentes, Discharge. Um ano depois ele estava viciado em um disco que ele achava demais, mas no qual nunca vi nenhuma graça, do Gang Green. Era muito chato, com exceção de uma música. Naquele ano, todo mundo passou a ouvir thrash metal. Eu achava legal, mas todo mundo começou a fazer aula para ser músico e passaram a renegar as raízes. Só eu e aquele tiozão, que tinha sido punk de moicano no começo dos anos 80, continuamos nos ligando em punk rock. O cara se chamava Luck Luque, algo assim. Nunca soube o nome dele, na real, engraçado isso. Lembro que em 1993, na última vez que o vi, mostrei para ele os CDs do Seaweed e do Sunny Day Real Estate que minha prima trouxe para mim dos Estados Unidos. Lembro-me que disse para ela "Compra qualquer coisa que tenha um selinho escrito Sub Pop". O Luck Luque odiou aqueles negócios que eu estava achando que eram tesouros secretos. Sacanagem, tava crente que estava compartilhando um puta achado com o "pai" de tantos sons bons. Fora a encheção por ouvir "essas merdas aí", foi uma cervejada legal. Depois cada um foi para seu canto, o cara mudou e perdi contato. Doze anos depois reencontrei o Luck Luque por acaso no shopping. Com uma filha "emo", viciada nessas merdas aí das quais nem lembro o nome. Por incrível que pareça, ele se lembrou do dia que mostrei os CDzinhos para ele. Como a mina - esqueci o nome - que ia casar com ele tava por perto na oficina, já grávida (mas eu não sabia disso), ele me culpou pelo gosto musical da garotinha. Logo começamos a discutir como sempre fizemos, eu argumentava que nem sabia o que era emocore na época, mas que as bandas eram boas. Era outra coisa, mas ninguém mais ouve aquilo. Ele ainda repetia o discurso de tantos anos atrás: "vocal de florzinha, guitarrinha enfeitada", sei lá o quê. A menina ficou tão constrangida quanto eu ficava quando meu pai ficava falando sem parar da buceta cabeluda da Cláudia Raia perto dos meus amigos quando eu nem tinha doze anos. E era a Cláudia Ohana que tinha um tapetão.
Wednesday, January 17, 2007
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1 comment:
Daniel, é muito legal ler você colocando o seu conhecimento de rock n roll como cenário ou pano de fundo nos teus textos.
E o seu pai realmente sabe das coisas, ao preferir Raia à Ohana.
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