Atualiza o site com conteúdo
antissemítico. Ele gosta de rir dessa palavra e tirar sarro de quem a usa.
Costuma rebater em discussões virtuais escrevendo que “mítico é o Holocausto” e
que “antisse” não existe. Usa essa piadinha na vida real também, sempre seguida
de uma risadinha de mofa, tão forçada quanto sua saída de perto de quem ele
escarnece, pois nunca confronta ninguém pessoalmente. Gosta de dizer que não
fala mal pelas costas; prefere dar tapinhas nas costas.
Queria sair da internet, mas a
discussão no whatsapp da banda, a qual deixou de acompanhar, ao desligar o
celular, migrou para uma conversa inbox. Estavam-no chamando na chincha. Ninguém quer usar a letra homofóbica que ele
havia feito. “Vocês nunca se importaram com isso, por que não posso falar
abertamente?”, ele questiona. “Você não é nenhum Neil Peart e esse não é um
tema do death”, rebate, seco, o vocalista, pondo um ponto final a uma guerra de
textão. “Então está bom, vocês não são true”, capitula. Pensa em sair da banda.
Depois decide isso, afinal não o expulsaram. Mas talvez seja mais importante se
dedicar a ajudar a difundir o Nazbol no país. Enfim, depois pensa direito a
respeito. Está tudo sob controle.
Então finalmente sai da internet.
Quer dormir. Mas o telefone toca. O fixo. Fazia tanto tempo que ninguém ligava
no fixo que nem se lembrava que ainda mantinha um. Atende. É a menina de ontem,
sua ex-aluna.
- Oi.
- Oi.
- Eu estava bêbada. Por que você
fez isso?
- Você queria.
- Eu não lembro.
- Pois é, você não lembra. Vamos
esquecer então.
- Eu lembro de acordar, eu lembro
como acordei! Eu te disse que gostava da amarula? Você me embebedou. Por que
você fez isso comigo?
- Você gostou.
- Não gostei nada. Nem lembro.
- Então nem sequer há algo para
ser esquecido.
- Escuta aqui, eu não lemb...
- Boa noite, beijo.
Vai dormir tranquilo; todas as
vezes em que fez isso nunca teve problema. Sonha com deus, o seu Deus, o que o
encontrou no seminário e disse para largar tudo e aproveitar tudo. No entanto,
não consegue lembrar muito bem do sonho, ao acordar. Nunca havia dormido tão
bem.
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