Exorcista e Poltergeist. Pô, era
sacanagem. Falaram para eu não assistir, mas não me metia medo. Sexta-Feira 13
tirava de letra. Achava que teria alguns sustos e boa.
Quando Poltergeist estreou na TV
foi aquele alvoroço. Muitas chamadas na programação ao longo da semana que
antecedeu à exibição provocaram um frisson na moçada. Era um filme
contemporâneo, ainda estávamos nos anos oitenta. Ah, pra quê? Mal vi o começo e
já fiquei meio arrepiado com a expectativa que criei. Desliguei a TV e desisti.
Uma meia hora depois me enchi de coragem. Quando religuei, vi a cena dos
trovões. Desliguei de novo e naquela época não havia controle remoto assim
fácil, ainda bem, pois não vi a tal cena da TV com chuviscos. Só fiquei sabendo
anos depois. Naquela tensão, discutindo com a babá, a driblei e liguei de novo
numa cena horrenda – ou ao menos me parecia terrível, afinal era criança.
Assustado, desliguei DE NOVO e acabei humilhado pelos risinhos de mofa da moça.
A cena que me apavorou deve ser algo risível hoje até para criancinhas; os
efeitos especiais provavelmente ficaram muito datados. Mas para mim não era e
fiquei dormindo mal por semanas. O pior era quando trovejava.
E o Exorcista então? Vi por menos
tempo ainda. Até hoje, tenho a impressão que é um filme muito tenso. O bizarro
é que vi as duas continuações pouco tempo depois e achei ambas bestas. Mas o
original, o clássico de William Friedkin com a Linda Blair, nunca vi inteiro. Hoje
nem tenho mais curiosidade, mas antigamente era pelo trauma que o medo infantil
me incutiu. O que não tem o menor sentido: divertia-me na mesma época não só
com os Sextas-Feiras 13, mas também com uma infinidade de filmes de terror gore,
como O Massacre da Serra Elétrica, A Volta Dos Mortos-Vivos, Re-Animator, A
Hora do Espanto e outras preciosidades que esbanjavam carnificinas, zumbis e
vampiros.
Meu problema era com demônios. Tentando
racionalizar sobre isso agora, creio que é porque com vampiros, zumbis e
psicopatas o problema era se meter no lugar errado numa hora imprópria. Mas os
capetas pegavam qualquer um em qualquer lugar e qualquer hora, era muita
maldade sem razão. Não que os outros seres tivessem alguma racionalidade, mas
tinha mais ou menos um por quê. Tipo, você vacilou e esbarrou num morto-vivo.
Ou vai transar justo perto do lago onde o Jason morreu, maior falta de
respeito. No entanto, com demônios você estava amaldiçoado porque sim. Acho que
era isso com que encanava.
Uma conversa casual na rua redimiu meu sono
naquela época. Ouvi-a por puro acaso mesmo, eu nem tinha provocado o assunto e
cheguei à rodinha no meio da prosa. Um moleque um pouco mais velho, o Marcão,
explicou para nós que possessões demoníacas aconteciam apenas nos Estados Unidos,
podíamos até ver que não tinha filme nacional sobre isso. Ah bom! Fez todo o
sentido do universo para mim. Só podia ser. Deus é brasileiro e patriota,
certeza. Estava a salvo.
Tempos depois assistia
tranquilamente Uma Noite Alucinante - A Morte do Demônio, Hellraiser, O Portão
e outros filmaços que faziam sucesso nas locadoras. E era um hipócrita. Quando
assistimos ao Evil Dead 2 – que é divertidíssimo – de galera, meu amigo Paulo
tapava os olhos nas cenas mais cabulosas e eu tirava sarro, como se fosse muito
macho.
Originalmente publicado no Jornal da Cidade, Poços de Caldas, 29 de julho de 2017.
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