Esta resenha saiu na página oito da edição 7666 do Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) em 31 de dezembro de 2021. O texto foi revisado pela Juliana Gandra antes da publicação.
O lançamento de Zênite, meu segundo livro/plaquete, foi em 29
de dezembro na Livraria Porão, inaugurada no segundo semestre de 2021 e já sob
nova direção, atualmente gerida pelo poeta e historiador Wellington Rafael.
Apelidado de Barba, já o conhecia desde 2019, quando ele deu aula no Educafro,
cursinho pré-vestibular comunitário no qual eu também fui voluntário. Seu
primeiro livro, no entanto, é de 2018. Não o conhecia, portanto. Presenteado
com um exemplar na véspera do lançamento, finalmente pude lê-lo. Rafael é
profundamente influenciado por Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade e
Manoel de Barros. Todos são citados explicitamente na obra, mas se não o fossem
suas marcas na escrita do poeta poços-caldense seriam facilmente reconhecíveis
pelos leitores afeitos à poesia, este gênero textual que “não dá camisa a
ninguém”, como bem nota o escritor e sociólogo Marcos Sturaro Silva no
prefácio. Sabendo da importância de insistir nesta utopia inglória que é o
fazer poético e sua publicação, Rafael não se furta de brincar com as palavras de
forma bastante lúdica. Versos singelos como “Os meninos da rua brincam/ Não se
dão conta do que acontece no mundo/ Não se importam com o que acontece no
mundo”, as rimas simples ou as inúmeras referências a passarinhos remetem a um
passado edênico tão caro a Quintana e Barros. Ou a bolsões de verde que ainda
resistem, se formos esperançosos. Aliás, apesar de sua atuação política (Rafael
é filiado ao PDT), sua poética não é militante. Uma exceção é o poema Chuva de
Sangue, que lembra o melhor de Jarid Arraes (“– Alguém morreu? – Mais um negro,
ao que me parece. – Outra mulher espancada? – Sim. A coisa tá feia, mas a
economia tá boa. A cadela deu cria.../Seus filhotes têm afiados/ E como mordem”).
É, de longe, o mais forte e incisivo do livro. No meu entender, o melhor. Porém,
a arte não precisa ser política ou “útil”; essas discussões sobre “arte pela
arte” ou “arte engajada”, uma falsa contraposição, são enfadonhas e já deveriam
estar ultrapassadas. No entanto, acreditem-me, há quem insista nestes
anacronismos. Por fim, é significativo que Rafael abra e feche o livro com
pequenas prosas poéticas. Ele mostra uma versatilidade como narrador que espero
que ainda seja mais explorada.
Daniel
Souza Luz é escritor, jornalista, professor e revisor
No comments:
Post a Comment