Monday, February 07, 2022

O Estranho no Corredor, de Chico Lopes (resenha)

Esta resenha foi publicada no Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) em cinco de fevereiro de 2022. O texto não passou por revisão; se necessário, posteriormente faço correções.

Este romance curto – ou novela, dependendo do ponto de vista – de Chico Lopes foi lançado em 2011 e trouxe-lhe certa consagração no cenário da literatura brasileira ao conquistar o terceiro lugar como melhor romance no Prêmio Jabuti em 2012. O escritor, natural de Novo Horizonte, morava em Poços de Caldas quando o escreveu, mas à época da premiação mudou-se para Brotas. De volta a Poços há alguns anos, foi agraciado recentemente com inúmeros exemplares da primeira edição de O Estranho no Corredor pela Editora 34. Ele está aproveitando para divulgá-lo mais; sorteou dez exemplares no lançamento do meu segundo livro/plaquete Zênite, em dezembro de 2021, por exemplo. Quem é daqui e se interessa por literatura de alto nível deveria, no meu entender, aproveitar a oportunidade para contatar o autor pessoalmente e adquirir um exemplar por valor mais em conta, o que é importante nestes tempos bicudos, antes que se esgotem. E que se preparem para uma leitura desafiadora, que exige elaboração e introspecção. É um mergulho fundo na psique do protagonista, um jovem professor de inglês interiorano e literato que se muda para a capital. Sua cidadezinha é indicada apenas pela inicial (V.) e a metrópole também é indistinta. Ele sente-se inadequado em ambas; esperançoso de sair da cidade natal, onde é um órfão sufocado pela personalidade castradora da tia, e ver materializada suas veleidades literárias na cidade grande, ele toma consciência não só da sua insignificância, que até almeja, para não ser notado e ferido por olhares enviesados, como principalmente da sua pusilanimidade. Mal reage a isso e quando reage, reage mal. Pudera: é uma trama que destaca a masculinidade tóxica. A virilidade, o corpanzil e o tamanho do pênis daqueles que ele elege como rivais e que mal o notam são ressaltados com frequência ao longo da história. O protagonista sente-se tão emasculado, com exceção de uns poucos momentos de euforia no qual se esquece que é franzino, que não tem nem bem um nome: para o único amigo na capital, Russo, um vagabundo misógino de bar que conhece numa situação homoerótica que este trata como piada, ele é o Teacher; em V. ele é o Paiva para desqualificados ainda piores, sem a compaixão de Russo – isso o humilha ainda mais, pois é o sobrenome do pai alcóolatra e bufão que o estigmatiza. Neste episódio também fica patente algo que ao longo de todo o livro se pode intuir, tendo um personagem tão ensimesmado: ele também era vítima de bullying. Suas poucas relações, sejam sexuais, sejam de amizade, não permanecem – nem mesmo com Carla, a única com a qual o sexo não é repulsivo. Tudo é borrado e até mesmo o tempo em que a trama se passa é indistinto: pelas referências a academias com música alta, ao A-Ha e a cinemas fechados, bem como a falta de celulares e da internet, supõe-se que se passe entre o fim da década de 1980 e o começo dos anos 2000; no entanto, as citações constantes de estrelas da era de ouro de Hollywood, da orquestra de Billy Vaughan ou ao famoso “footing” de outrora remete aos anos 1950 e 1960. Não é à toa que o protagonista procura sua identidade e não e encontra. Não bastasse isso, é inexplicavelmente perseguido por um homem forte e fantasmagórico; é como se fosse sua sombra no conceito junguiano. Isso, sabiamente, fica em aberto para várias interpretações.

Daniel Souza Luz é jornalista, escritor, professor e revisor 





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