Esta resenha foi publicada na página nove da edição 7740 do Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG) em 21 de abril de 2022. Eu mesmo revisei o texto; devido à falta de tempo hábil para escrever um texto inédito, apenas peguei uma resenha que havia escrito para o Good Reads em 2019 e acrescentei algumas informações, usando como gancho para a publicação o fato de Maurice Druon ter nascido e morrido em abril.
O
clipe de Tunic (Song for Karen), do Sonic Youth, tem alguns trechos que citam O
Menino do Dedo Verde, comentou comigo uma ex-namorada, nos já distantes, muitos
distantes, anos 1990. Nunca me esqueci disso e em julho de 2019 vi um exemplar
da obra, uma maltratada edição de 1979, num brechó/sebo que estava arrecadando
recursos para animais de rua. Comprei imediatamente e, concluída a leitura, o
doei para uma biblioteca livre; a moça que estava responsável pela lojinha me
disse, na ocasião, que é um clássico da literatura infantil. A introdução
informa que Maurice Druon é um dos compositores da letra do hino antifascista
Le Chant des Partisans. Outra boa referência. Druon, aliás, apesar de ter sido
membro da Resistência contra os nazistas na França durante a Segunda Guerra
Mundial, teve vida longeva e morreu num abril como este, poucos dias antes de
fazer 91 anos, em 2009. O livro é uma fábula que quase imperceptivelmente
remete ao também clássico O Pequeno Príncipe, mas é uma leitura que flui melhor
e é mais encantadora. A história tem certo viés religioso, como nota o
tradutor, Dom Marcos Barbosa. No entanto, não há proselitismo. Incomoda-me
apenas que Druon esqueça-se que mudou o nome da cidade onde Tistu, o
protagonista, mora, volte a usar o nome antigo no meio da trama e lembre-se do
novo nome no final do livro, como se nada tivesse acontecido. Não é possível
que esse anacronismo seja uma falha de tradução, mas seria interessante conferir
isto em edições mais recentes, pois o livro ainda está em catálogo no Brasil.
Há uma certa idealização da alta burguesia que também me causa certa estranheza,
embora esta seja retratada até que criticamente, com o passar da história.
Assim que acabei a leitura fui rever o clipe do Sonic Youth e percebi que as
referências ao livro são breves, porque o tema da música na verdade é a vida de
Karen Carpenter e o roteiro do vídeo foca-se na biografia dela, mas ao mesmo
tempo são explícitas e bem encaixadas.
Daniel
Souza Luz é professor, jornalista, escritor e revisor
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