No início dos anos 1980 meu
pai costumava levar a mim e meus irmãos para andarmos de bicicleta no aeroporto
de Poços. No calçamento de pedras entre os jardins era tolerado que nós
andássemos nas nossas bicicletinhas com rodinhas. Meu irmão aprendeu a andar
sem o apoio das rodas laterais antes de mim; eu aprendi semanas depois,
irritado com as provocações dos adultos sem noção que também iam passear por
ali. Essas bicicletinhas ficaram pequenas demais para nós uns anos depois. O
BMX já era um esporte mais popular, víamos em filmes como ET: O Extraterrestre,
pegávamos emprestadas as Caloi Light de alguns amigos para darmos umas
voltinhas e queríamos nossas bikes no mesmo estilo para darmos nossos pulos por
aí também. Ah, antes que me esqueça: naquelas idas ao aeroporto uma vez meu pai
deu carona a um velhinho que desembarcou lá. Eu lembro que ele era simpático e
careca. Anos depois meu pai disse que era o Tancredo Neves e que ele ficou com
pena do Tancredo chegar lá e não haver nenhum correligionário para recebê-lo.
Minha mãe não se lembra disso, nunca conversei a respeito com meu irmão, acho
que minha irmã não era nascida e eu era criancinha demais para saber quem ele
era ou guardar a fisionomia. Isso deve ter sido em 1980 ou 1981. Depois dessa
breve digressão, vamos ao que interessa: pedimos nossas bicicletas de BMX para
o Papai Noel. Há fotos de nós andando nessas bikes, Monarks de pneus amarelos,
aliás muito pesadas quando comparadas com às Caloi Light, em 1985. Isso
significa que foram presenteadas no Natal de 1984. Eu e meu irmão estávamos
muito ansiosos para ganhá-las. Não queríamos dormir no horário que minha mãe e
meu pai estipularam. Meu pai tentou nos despistar. Imagino que as bicicletas
estivessem no quintal do predinho onde morávamos ou algo assim. Ou seja, havia
o risco de serem furtadas, provavelmente por isso ele se apressou. Não vimos
ele entrando com as bicicletas, mas ouvimos o barulho da porta e de
movimentação da sala. Não bastasse isso, o vimos vindo pelo corredor. Foi aí
que percebemos, eu e meu irmão, que Papai Noel não existia. Comentamos sobre
isso na manhã seguinte. Fiquei me achando muito adulto. Tinha 10 anos. As
crianças de hoje não devem ser tão ingênuas.
Daniel Souza Luz é jornalista,
professor, escritor e revisor
Esta é a minha bicicleta atual. Tenho há uns quinze anos e não pedalo nela há muito tempo.
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