Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade em 04/09/2021. Originalmente chama-se Raimundos Versus Pins Ups (eu era muito feliz há 21 anos), pois a escrevi e publiquei como a Micrônica 1996 em 25/10/2017. Premido pela falta de tempo e outras tarefas, esqueci de alterar o título quando a mandei para o jornal, de última hora. O texto que foi publicado nele é mera transcrição daquela micrônica escrita à mão. Agora corrigi o título, observando a passagem do tempo, para essa publicação e resolvi fazer várias alterações, acrescentando muita mais informação ao texto e eliminando muita repetição de termos e palavras. Esta versão publicada aqui, portanto, é a definitiva.
Sempre gostei de contar esta
história, mas nunca a escrevi. As bandas que mais vi shows ao longo dos anos
noventa foram os Raimundos, os Pin Ups e o Autoboneco. Em Bauru, onde fiz a
universidade, o Autoboneco, cujo nome na verdade é um símbolo como o do Prince
e na época era conhecido como Bonequinho, era a banda que mais gostava na cena
underground e naturalmente foi que mais vi ao vivo. Raimundos era zoeira adolescente
com a qual me identifiquei assim que ouvi Puteiro em João Pessoa, antes do
primeiro disco sair, em 1994. Vi um trecho num show exibido na MTV; um amigo de
Ribeirão Preto, o Vítor, gravou pra mim. Em 1995 consegui ver o primeiro de vários
shows deles que eu viria a assistir. Pin Ups conheci antes ainda, quando o Luiz
Gustavo, o vocalista, cujas HQs eu gostava demais, ainda estava à frente do
grupo. No entanto, só vi shows depois que a baixista Alê Briganti se tornou a vocalista.
Por mim tudo ótimo com ela no vocal de 1996 em diante, minha música favorita
deles era Witkin, a única que ela cantava antes (se não se levar em conta o projeto
acústico do grupo, o Gash). Com a Alê à frente, o Pin Ups tornou-se a voz do
feminismo no rock brasileiro e o Raimundos era a face das letras machistas, mas
eu levava no bom humor. Entrevistei tanto ela quanto o Rodolfo, à época ainda à
frente dos Raimundos, para o meu TCC, no final daquela década. Ambos foram legais
ao me receber, em especial ela, ao encontrá-la por acaso em Santos – eu ainda marcaria
a entrevista em São Paulo, mas fizemos a entrevista no improviso, o que não foi
nenhum problema, pois eu já tinha a pauta na cabeça. Apesar de não ter gostado
de algumas perguntas, ele me tratou educadamente e não precisei pedir para
assessoria de imprensa antes e nem nada assim, simplesmente me apresentei, disse
que era para um trabalho da faculdade, que iria ao ar na rádio universitária, e
ele me concedeu a entrevista imediatamente, sem qualquer formalidade. E os conflitos
de hoje espelham o que ambos diziam.
Daniel Souza Luz é jornalista, escritor, revisor
e professor
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