Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade (de Poços de Caldas) em seis de novembro de 2021. É uma versão um pouco ampliada da minha Micrônica 1997, de 26 de outubro de 2017.
Talvez um dos aspectos dos
quais mais tenho saudades dos anos noventa é fato do meio punk/hardcore ser o
mais aberto para novas ideias e não se encontrar nenhum machocore de direita
ignara na cena. Ao menos eu, felizmente, não conheci nenhum à época. Veganismo,
sexismo, homofobia, racismo, violência policial e todos os temas hoje prementes
eram discutidos o tempo todo em shows e, também, quando encontrava amigos e
amigas com gosto musical semelhante. Muitos dos debates destes anos
pós-Jornadas de Junho de 2013 já tinha discutido há vinte anos ou mais. O punk
e o hardcore foram as melhores escolas que frequentei; as letras das músicas e
os encartes foram os melhores professores. Foi tão ótimo quanto ter cursado a
Unesp, a Unicamp e a pós-graduação em Jornalismo Literário. Ainda havia os
fanzines para ajudar a nos iluminar ainda mais. Lembro do enorme impacto que
tiveram bandas feministas como Dominatrix, Bikini Kill, Pin Ups e muitas
outras. Discutia nossa relação com minha namorada de então baseado nas letras
da Kathleen Hanna. Parecia que tudo evoluiria muito. Mais de duas décadas
depois, evoluímos. Mas a reação é forte. Tudo bem, quem frequentava rodas de
pogo está preparado.
Daniel Souza Luz é professor, jornalista,
revisor e escritor
Kathleen Hanna à frente do seu grupo The Julie Ruin, em 10/11/2013, no Fun Fun Fest em Austin, Texas/EUA.
Foto tirada por Anna Hanks e reproduzida via licença Creative Commons.
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