Esta crônica foi publicada na página 7 da edição 7850 do Jornal da Cidade (de Poços de Caldas/MG).
É muito fácil fazer um artigo de
platitudes igual aos que pululam por aí aos montes em tudo que é periódico. É
só juntar os ingredientes básicos, cozinhar e servir morno em largas porções ao
leitor. Definições copiadas de velhas enciclopédias, de preferência. Fica mais
difícil rastrear. Wikipédia é muito manjado. Lembro de uma coluna literária num
extinto jornal local em que o rapazinho só pegava verbetes como o de Monteiro
Lobato e jogava lá como se fosse o autor. Já não lembro bem, mas tinha um ou
outro trecho surrupiado de sites educativos. É bom dar uma disfarçada, né? Como
se fosse um trabalho escolar copiado do coleguinha, com um ou outro trecho
alterado, para o professor não perceber. Pena que existem ferramentas de busca
na internet, que chato. Esse é o tipo mais fácil de falsário de ser
identificado. Também, de uma hora para outra começar a apresentar certa
erudição, depois de apresentar textos primários, é mancada. Sei lá, vale tudo
para deixar o próprio nome em evidência. Os manuais de autoajuda provavelmente
dizem que é imperativo aparecer a todo custo, deve ser isso. Eu gosto de uma
definição cínica, bem característica do pragmatismo norte-americano, da qual
jamais me esqueci e que li há mais de vinte anos no Mate-me Por Favor, clássico
da história oral. Salvo engano, foi dita pelo Jeff Magnum: boa publicidade é
boa publicidade, má publicidade é boa publicidade e nenhuma publicidade é má
publicidade. Só por isso não cito os nomes dos autores das infâmias. Ora, um
bom texto de platitudes é igual indireta de rede social: não se cita os nomes
de quem se critica, senão não seria platitude. Perderia a característica de bom
mocinho. Só que eu também aprecio uma definição da qual, dessa vez, me lembro
bem do autor: não vou dar palco para babaca, como dizia o jornalista Ricardo
Boechat, tragicamente falecido e que faz muita falta neste momento. Aliás, eu
conferiria se o Jeff Magnum, baixista do Dead Boys, é mesmo o autor da frase
que citei antes, mas meu exemplar do livro foi surrupiado. Tudo bem; se meu intento é emular um texto
repleto de platitudes, uma citação errônea tem seu charme. E, de qualquer
forma, o exemplo que citei antes é até ingênuo. Os piores tipos de artigos de
platitudes são os escritos por gente como a também já falecida Lya Luft. Ela
até tem um êmulo local também. Escreve bem, muito corretamente, sem plagiar
ninguém, tal como ela o fazia, e vai-se lendo aquela conversinha mole, que
parece muito civilizada e que muitas vezes tenta diferenciar-se pelo humor
capenga, feita para enganar incautos ou para coonestar pulhas que compartilham
aqueles textos aparentemente sofisticados. E, de repente, lá está: aquela
passada de pano implícita para o fascismo mais descarado, o desprezo pelas centenas
de milhares de vidas que poderiam ser poupadas e que ainda foram alvo de
deboche ao morrer de Covid-19. Fascismo ilustrado ou fascismo tosco dão no
mesmo. Foi mal, queria escrever um texto parodiando essas bobagens, mas falhei
brutalmente devido à minha fisiologia: falta-me sangue de barata.
Daniel Souza Luz é jornalista,
professor, revisor e escritor
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