Lembro-me calorosamente do meu primeiro beijo. Foi
em 1985. Ela era bem mais velha; ainda adolescente e com apreço por usar uns decotes
que me fascinavam. À época havia uma novela global que tinha como protagonista
um estilista que durante a trama lançou um batom chamado Boka Loka. O tal do
batom tornaria irresistível quem o usasse, fazendo quem estava por perto querer
beijar a pessoa a qualquer custo. Talvez O Perfume, do Patrick Süskind, tenha
sido a gênese desta ideia, ocorre-me agora. Afinal o livro foi lançado naquele
ano. Enfim, eu tinha só dez anos, ia fazer onze. Ela tinha quinze ou dezesseis.
Ela passou o batom dela em mim e me beijou até tirá-lo. A língua tinha um gosto diferente e apetitoso. Ela deixou que eu
passasse a mão na bunda dela, em outra ocasião. Foi só isso e foi muito bom. O
batom foi lançado de verdade, anos depois, mas tenho certeza de que não teria o
mesmo gosto.
Wednesday, December 28, 2016
Tuesday, December 27, 2016
Au Pairs, crônica sobre uma infância feliz.
Primeiro, quando meus pais faziam
faculdade, era uma moça ainda adolescente. Era eles saírem e ela pegava o
telefone para passar trote em algum felizardo. Tinha uma linha de disk amizade,
algo assim, na qual se podia falar com qualquer um que estivesse “online”. Acho
que deu sujeira, vinha uma conta cara, não lembro mais direito. Daí ela começou
a ligar a esmo e passar cantadas vagabundas em qualquer trouxa que acreditasse.
A cara de pau marcava encontros nos quais não ia e nem pretendia. O dia mais
massa foi quando ela conseguiu convencer um fulano de que ela era rica. Ela
pediu para eu e meus irmãos pegarmos um balde e o enchermos d’água. Feito isso,
ela espalmava a mão n’água e falava que estava mergulhando na piscina.
Morríamos de rir. Essa aí não durou muito, era muito desajuizada. Consta que
casou com um fazendeiro rico, quando perguntei dela, muitos anos atrás. Deve
ter uma piscina de verdade agora.
Depois foi uma moça muito gente
fina e mais inteligente. Creio que posso citar o nome dela: Fátima. Dela
infelizmente não sei mais nada. Ela esperava um pouco para meus pais saírem
para a aula. Telefone nos anos oitenta era algo muito sério, do qual ela
mantinha distância. Assim que estava limpo, íamos todos para a rua. Ela sentava
na porta do prédio e ficava trocando ideia com as minhas vizinhas que já eram
adolescentes. Suponho que sobre garotos, nunca prestei atenção às conversas.
Minha rua virava uma bagunça danada. Das sete e pouco da noite até as dez era
lotada de criança zoando no talo. Não sei como nenhum vizinho não nos dedurou a
nossos pais. Acho que ali, na rua Platina da minha infância, todo mundo mais
velho era como sou agora com relação à molecada do meu bairro: se há crianças
implodindo a rua à noite de tanto brincar, é porque posso dormir sossegado,
pois estou num lugar muito seguro.
Monday, December 19, 2016
Agent Orange, uma breve crônica.
Nunca me esqueci de uma música de
um vídeo de skate chamada 2+2=5, do Agent Orange, uma das bandas que mais amo.
Até aprendi com uma amiga, nos anos oitenta mesmo, como se pronunciava dois
mais dois igual a cinco em inglês. O problema é que já há alguns anos, com o
acesso fácil à informação na internet, descobri que essa música definitivamente
não existe. Era um vídeo de um programa de TV lendário, o Grito da Rua, e o
amigo que o gravou, Maurício, morreu há vinte anos. Dificilmente verei isso de
novo algum dia. Ou legendaram erroneamente o vídeo e trocaram o nome da banda,
ou sonhei com essa cena quando era adolescente e a memória solidificou o que
era onírico. Era uma música tão legal, ela precisava existir.
Foto que tirei de Mike Palm, do Agent Orange, em junho de 2014, num dos shows mais emocionantes da minha vida. |
Tuesday, December 13, 2016
Peter Hook and the Light, crônica sobre o show
Joy Division é a minha banda
favorita. Amo New Order desde criança, quando era uma banda mega popular que
tocava no rádio o tempo todo, no auge de um termo que me parece esquecido hoje,
o tecnopop. O primeiro disco do New Order que ouvi foi a coletânea Substance,
em 1988, embora lançada em 1987. Minha música predileta era Ceremony, mas a
achava estranhamente diferente das demais e muito melhor. Só dois anos depois
fui saber que foi composta um pouco antes do suicídio de Ian Curtis em 1980 e
reaproveitada pelos sobreviventes do Joy Division no novo grupo, o New Order.
Ou seja, Joy Division já era minha banda favorita e eu nem sabia. Naquele ano
vi um vídeo de skate, creio que do Vibração, gravado no campeonato no prédio da
Cásper Líbero. Nele pela primeira vez ouvi Love Will Tear Us Apart; não sabia
de quem era a música e nem o seu nome, o que me marcou é que um arrepio subiu
pela minha espinha. Nunca havia ouvido nada tão lindo e até hoje não conheço
algo comparável. Pouco tempo depois ouvi uma radialista conterrânea chamada
Flávia tocar Love Will Tear Us Apart, dizer que era do Joy Division e a emendar
com Ceremony, dizendo que não era uma coincidência. Desconfiei que havia uma
ligação entre as bandas e em 1990, ao ler um artigo do já falecido jornalista
Celso Pucci (guitarrista da banda de alt-country 3 Hombres) na lendária revista
de HQ underground Animal, descobri que estava certo e me inteirei sobre a morte
de Ian Curtis e a transmutação do JD no New Order, um nome apropriado. A
percepção que tive era de que o NO era uma banda alegre para compensar a dor e
o tom soturno do JD, algo que vejo até hoje os integrantes confirmarem em
entrevistas. Enfim, ao longo dos anos fui completando a discografia do Joy
Division, a maioria gravada em fita cassete. Algo que me impressiona
profundamente é que o disco perfeito para mim, o segundo álbum deles, o Closer,
só o seja no Brasil; só a versão brasileira saiu com Love Will Tear Us Apart de
bônus. De qualquer forma, curiosamente, o disco deles que mais ouvi –
justamente porque foi o único vinil que consegui à época – foi a coletânea que
tem o mesmo nome da do New Order, Substance, que possuía a indicação 1977-1980,
algo que sempre me fascinou por ser um período da música pelo qual sempre me
encantei. Meu irmão Eurico percebeu nos vídeos de skate que tinham músicas do
Joy Division e em especial no Substance, principalmente quando tem início a
segunda música, Leaders of Men, que o que se destaca na banda é o baixo. Nós
nunca conseguíamos ouvir o baixo em banda nenhuma, a não ser no New Order, no
PIL, no Sisters of Mercy, na Legião e principalmente no Joy Division, em que o
grave é simplesmente animal. Animal, não tem outra palavra pra descrever. Notamos
que essa marca da banda, junto ao vocal grave, parece ter influenciado
infinitas bandas.
Corta para 2016, vinte e oito
anos depois. O New Order esfacelou-se e o responsável por aquele baixo, Peter
Hook, está brigado com a banda e tocará na íntegra os dois Substances numa
turnê, a qual passará para o Brasil. Tenho que ir, claro. Queria ter 18 anos em
1977, mas não tem jeito, o modo mais próximo de chegar perto do Joy Division é
este. Então peguei o busão com meu amigo Bruno Karnov e cheguei ao show do
Peter Hook and the Light em São Paulo, na Liberdade, às 22:00 em ponto, depois
de correr muito pela rua e pela estação de metrô Tietê, devido a contratempos
que me impediram de ir mais cedo. A divulgação dizia que o show começaria
pontualmente. Até eu entrar e achar um lugar legal para ver era 22:02. Às 22:03
o show começou, como se Hooky tivesse me esperado. Muito obrigado. Do fundo,
esbaforido, vi uma gentileza: ele começou com o Substance do New Order, mas com
três músicas bônus do segundo CD. A primeira foi In a Lonely Place, sombria,
combinando com o fato de que foi a última letra (salvo engano) escrita por Ian Curtis, pouco antes de se
matar. Procession foi linda ao vivo, o sintetizador emulou bem a sonoridade
original. Preocupado em encontrar um lugar melhor no meio das pessoas, nem
prestei muita atenção na terceira música, acho que foi Cries and Whispers
mesmo. Aí veio Ceremony. Aí sim. Que linha de baixo. Que textura e timbre
absolutamente pessoais. Que coisa linda finalmente vê-la ao vivo. De Everything’s
Gone Green em diante o show dedicado ao New Order degringolou um pouco. Muitos
samplers, não eram sintetizadores sendo tocados na hora, mas sim bases
pré-gravadas idênticas ao disco; soava como mero playback para que Peter Hook e
seu filho se revezarem no baixo, notadamente enquanto Hooky cantava. Num tom
mais grave, Hook engana, mas foi sábio quando ele deixou para o guitarrista
David Potts cantar músicas como Confusion, pois seu tom lembra bastante o de
Bernard Sumner. Houve bons momentos, como Perfect Kiss, mas quando a parte
dedicada ao New Order chegou ao fim, com todo o Substance executado mecanicamente
na ordem e com 1963 de bônus, entrou o som mecânico rolando Kraftwerk e o
próprio New Order. Fiquei com a sensação de que fazia pouca diferença; era só o
baixo que se destacava ao vivo mesmo. Muita gente foi para trás, neste momento,
para comprar cerveja e tomar um ar. Que sorte! Cheguei mais perto do palco e,
como se não bastasse, ali chegava o ar condicionado. Antes da apresentação recomeçar,
ouvi uma garota perto dizendo para o namorado, empolgada: “Ele vai tocar o
Substance do Joy Division também? Não acredito, que incrível!”. Pensei:
gostaria de ser feliz na ignorância também. E não é que meu desejo se realizou?
Hook e a banda voltaram e também começaram por músicas bônus do Substance do
JD, como No Love Lost e These Days. Mas, ao contrário da seção dedicada ao New
Order, não se circunscreveram ao Substance. Para minha completa incredulidade,
tocaram a minha música favorita de todos os tempos: Disorder. Faltou peso no
baixo, tocado pelo filho dele, mas era Disorder. Cantei a todos pulmões, até
agora não acredito, parecia um sonho. Foi um sonho. De quebra, ainda tocaram
Shadowplay. Baque à parte, lá veio: 3,5,0,1,2,5, go! Finalmente o Substance na
ordem original do LP. Só havia quatro pessoas pogando: eu, um cara grandão e
negro (achei legal demais, o público não era tão branco para uma banda que no
passado era cultuada por um público “dark” metido a elitista), uma moça e um headbanger.
Quando um sujeito subiu no palco para um stage dive, ninguém quis segurar e ele
desceu sem pular; o Hook chegou a rir da situação. Warsaw veio com um intermezzo
desacelerando-a e depois dá-lhe porrada de novo; Leaders of Men teve o baixo um tiquinho mais pesado; Digital
manteve o ritmo; em Autosuggestion, durante a qual filmei alguns trechos,
aceleraram bastante o andamento no refrão; em Transmission a maioria dos
presentes cantou junto; em She’s Lost Control faltou a bateria acústica junto
com a eletrônica, mas o duelo de baixos robóticos valeu a pena; em Incubation
foi estranho ver a banda sem Hooky no palco; Dead Souls foi outro sonho, pois
sempre achei que ficaria boa com dois baixos e nela Hook e seu filho
complementaram-se tocando juntos o tempo todo. Deu-se uma pausa e foi
engraçado: um cara que parecia um cosplay do Mark E. Smith do The Fall subiu ao
palco e disse que a próxima música era dedicada à Chapecoense, cujo time morreu
quase todo no acidente aéreo que ocupou a mídia por boa parte naqueles dias. O
público ovacionou, fiquei na minha. Não achei totalmente inadequado, ingleses
amam futebol, mas me pareceu algo piegas. O banger que estava perto gritou
“Foda-se a Chapecoense!” e foi embora desgostoso. Iluminaram o palco de verde e
lá veio Atmosphere. Achei que seria uma breguice medonha, é a música do disco
que menos gosto, mas não é que deu certo? A música ganhou vida ao vivo, aliás
isso me chamou demais a atenção: por mais que eu ame o New Order, não dá para
comparar mesmo com o Joy Division, cujas músicas, ironicamente ou não, pulsam
vida no show. Por fim, um dos grandes momentos da minha vida aconteceu neste
show. Não esperava nada do final. Love Will Tear Us Apart é uma música que ouvi
ad nauseam. Eu tenho o espírito, mas perdi o sentimento. Quando ela teve
início, destacando mais o baixo do que teclado, aquele arrepio que senti na
espinha há vinte e oito anos subiu de novo. Acabou sendo meio rock de arena do
meio para frente, mas não tem importância, aproveitei para pensar em todas as
mulheres que me marcaram. Ainda tenho o espírito e o sentimento, apesar de ter
achado que perdi o último há anos. Nunca imaginei que teria a mesma sensação de
encantamento com Love Will Tear Us Apart de quase três décadas atrás. Ian
Curtis cometeu o único erro. Por mais que o mundo seja frio e áspero, a vida é
a única coisa que vale a pena ser vivida, como dizia Will Shatter.
Peter Hook and the Light no Cine Joia, seis de dezembro de 2016. Tirei a foto com celular. |
Monday, November 28, 2016
Cocteau Twins, uma crônica.
Etéreo e onírico são adjetivos já
muito desgastados para descrever o som do Cocteau Twins. Para mim, a primeira
vez que ouvi, parecia mais do que isso até. Era magia, algo impossível de ser
feito com instrumentos musicais, pois soou uma cornucópia de todas as belezas
do mundo aos meus ouvidos. Um feito inumano feito por humanos que tiveram uma epifania,
ou, melhor ainda, uma teofania.
Como vários bons sons que
marcaram minha vida, conheci através do programa Som Pop, apresentado por Kid
Vinil, na TV Cultura. Em 1990 ele passou dois clipes do Cocteau Twins. Recordo-me,
mesmerizado, do deleite proporcionado pelas músicas e também pelas imagens. Um
foi Carolyn’s Fingers e o outro foi Iceblink Luck. Não tenho nem mais o que
falar; são obras de arte tão belíssimas que falam por si mesmas.
Foto de Teakood: https://www.flickr.com/photos/teakwood/ (Creative Commons). Link da postagem original da foto: https://www.flickr.com/photos/teakwood/8944771412/ |
Tuesday, November 22, 2016
PIL, uma crônica.
Sex Pistols era uma das minhas
bandas favoritas no fim dos anos oitenta, talvez então fosse “A” favorita. Às
vezes lia sobre o Public Image Limited, o PIL, o grupo que John Lydon montou
logo depois da dissolução dos Pistols em 1978, abandonando o nome Johnny
Rotten, mas só podia imaginar como era o som. Quando ouvi pela primeira vez,
logo percebi a diferença fundamental do pós punk para o punk: eu ouvia
nitidamente o baixo de Jah Wobble, era outra pegada, embora próxima. Na
verdade, já conhecia a banda de um vídeo, gravado pelo meu amigo Maurício, do
programa Vibração, que falava surf e às vezes de skate. Era uma reportagem
mostrando como foram as demos de Tony Hawk e Lance Mountain nas pistas de skate
do Brasil; uma das músicas do vídeo era Fodderstompf. Eu e meu irmão adorávamos
o “rap” que mandavam em cima de uma base eletrofunk, uma falação no qual
distinguíamos apenas que estavam ironizando, em meio ao pouco que sabíamos de
inglês, o “amor estúpido”. No entanto, não fazíamos ideia de que banda era, não
havia identificação das músicas e só conhecíamos o Sisters of Mercy na trilha
sonora.
A primeira vez que me dei conta
de que estava ouvindo o PIL foi emocionante: no programa Matéria Prima,
apresentado por Serginho Groisman na TV Cultura na virada dos anos oitenta para
os noventa. Durante o encerramento, tocou uma música na qual logo reconheci o
vocal de Lydon, mas o timbre da guitarra era muito diferente da de Steve Jones
e tão brilhante quanto. Em especial, consegui ouvir o baixo, algo que tentava
fazer nas músicas dos Pistols e não conhecia reconhecer nada debaixo daquelas
camadas superpostas de guitarras – só depois de começar a fazer aula de baixo
que distingui o pálido som de base feito, reza a lenda, pelo próprio Jones,
pois Sid Vicious não conseguia gravar adequadamente. A música do PIL que rolou
no Matéria Prima era Public Image, descobri ao conseguir gravar o disco ao
pegar emprestado com um amigo, creio que no final daquele ano ou em 1991;
antes, como não tinha acesso, aproveite-me de uma particularidade da minha
cidade natal. Assistia ao Matéria Prima na TV Cultura; ao final de todo
programa tocava uma música diferente. Como outra emissora “educativa” iria se
instalar no município em 1990, começaram a transmitir o sinal carioca da TVE.
Sei lá porque cargas d’água, sempre que acabava o programa a TVE cortava o
sinal ao vivo e passavam o final daquele Matéria Prima em que tocava Public
Image quase na íntegra. Era o único jeito, para mim, de ouvir PIL à época. Toda
tarde, sem exceção, assistia ao programa na TV Cultura e depois trocava de
canal para escutar minha amada música no final “alternativo” inventado pela TVE.
Minha velha e querida fitinha cassete do PIL, já com mais de um quarto de século e ainda funcionando. |
Friday, November 18, 2016
Magazine, uma crônica
Magazine era a banda de Howard
Devoto, ex-Buzzcocks. Uma lenda pós punk do fim dos anos setenta e começo da
década de oitenta. Mas só fui ouvir no século 21 e não me marcou muito. O que eu ouvia mesmo nos anos oitenta era
outro Magazine, o brasileiro. A banda de Kid Vinil, figura popular e simpática,
que depois influenciaria muito do meu gosto musical à frente do Som Pop, na TV Cultura,
no fim daquela década, um assunto do qual sempre gosto de falar. Mas quando eu
era criança gostava mesmo era da banda new wave dele. Geral na escola também
adorava os sucessos Eu Sou Boy e Tic Tic Nervoso. Meio que caiu no
esquecimento; nunca mais ouvi, até lembrar hoje da existência da banda e de
como achava divertido.
Manjam aquelas apresentações que
as crianças fazem para os pais no fim do ano escolar? Em 1984 ou 1985 eu e meu
irmão fizemos uma dessas apresentações no teatro da escola na qual estudávamos,
o Pelicano, e foram apresentações musicais da qual ainda temos as fotos. A do
meu irmão foi mais complicada: eles dançaram break ao som de uma música do
Michael Jackson, vestidos a caráter, com roupas de b-boys. Não tenho certeza de
qual música foi, só sei que era um dos hits então onipresentes dele, provavelmente
Beat It. Era uma coreografia toda complicada, ou ao menos me pareceu. Um
detalhe paralelo curioso: à época, quando passávamos em frente ao cemitério,
minha irmã, que é mais nova, tinha medo de que tocasse Thriller no toca-fitas e
até o pôster gigante do Michael Jackson que havia em casa foi tirado da parede
quando começou a parecer meio sinistrão. Voltando à apresentação escolar de fim
de ano, para mim foi mais fácil e combinava comigo: dançamos Tic Tic Nervoso,
também devidamente vestidos para a ocasião; hoje seria chamado de cosplay new
wave: com camisas sociais de manga curta e gravata. Foi divertido. Mesmo tendo
vergonha de subir ao palco, não precisava fazer algo tão bem coreografado. Os
meus amigos e colegas de sala até que dançaram mais direitinho, eu fiz tudo
descoordenado e achei ótimo. Até hoje acho que mandei bem, era o espírito da
música. O mais legal é olhar para as fotos e ver que eu pareço uma versão mirim
do próprio Kid Vinil ou do Herbert Vianna – eu uso óculos.
Monday, November 07, 2016
XTC, uma croniqueta
Até hoje não ouvi muito. Sim,
pouco manjo de XTC. No entanto, tenho uma ótima lembrança deles; só não sei se
é real.
Em um domingo ensolarado e
tranquilo da pré-adolescência, assim que caiu a noite, como de costume, fui
assistir ao Som Pom, na TV Cultura. Lembro que passou um clipe deles e logo
decorei o nome da banda, bem fácil de lembrar. Uma música tão solar quanto foi
aquele domingo perdido lá nos estertores dos anos oitenta, com um vídeo muito
colorido, que refletia a felicidade daquele dia. O problema é que só guardei o
nome do XTC, não da música. Sempre procurei esse videoclipe. Nunca o vi em
outros canais de TV ou online, justo hoje em que (quase) tudo se encontra na
internet. Os clipes que encontro não tem eles tocando em estúdio, nem todo um
clima leve em volta. Às vezes acho que esse vídeo que supostamente vi foi um
sonho que tive inadvertidamente e a recordação dele se tornou real demais.
Monday, October 31, 2016
The Fall, uma croniqueta.
Salvo engano, só comecei a andar
de skate em 1988. Com certeza foi, porque me lembro de que aprendi quando tinha
13 anos, completados no fim de 1987. Meu irmão Eurico começou a andar antes, provavelmente
naquele 1987, quando um amigo chamado Ronan levou o skate dele na rua, um
péssimo Pro Life, mas que serviu para nossas primeiras tentativas.
Não tenho muita certeza, mas acho
que não andava ainda quando testemunhei um tombo do meu irmão que me assustou
muito e por causa disso só deixei de ser cabação no sk8 em 1988. E eu era bem
cabaço mesmo. Ele foi pular uma rampinha improvisada na rua do predinho onde
morávamos, bateu a cabeça no chão e eu ouvi o barulho da batida apesar de estar
ouvindo música alta no toca-fitas do carro do meu pai, que era o único aparelho
de som que tínhamos. Detalhe: bem na hora em que ele caiu, eu ouvia Bark at the
Moon, do Ozzy Osbourne. Pensamento mágico de criança, influenciado por
discursos sensacionalistas na mídia: eu entrei em casa lamentando o que aconteceu
com meu irmão, devido a uma suposta influência malévola da música. Felizmente
ficou tudo bem: ele logo se recuperou da pancada e dois anos depois já
estávamos até ouvindo Slayer juntos.
Monday, October 24, 2016
The Clash, uma crônica dedicada com muito amor para a Renata Rodrigues e o Maurício Rodrigues.
A primeira vez que ouvi The Clash
foi num vídeo de skate. Era um programa da TV Manchete levado ao ar entre meados
e fim dos anos oitenta. Chamava-se Vibração e foi gravado numa fita de
videocassete por um amigo, já falecido, Maurício Rodrigues. O programa mostrava
a visita de John Gibson, um skatista texano, ao Brasil. Depois da entrevista,
ele andava enquanto rolava algumas músicas no BG; não me recordo de todas, mas
creio que era Janie Jones, White Riot, I Fought the Law e, por fim, Guns of
Brixton. Eu e meu irmão, respectivamente com 13 e 12 anos, ao ouvir, ficamos empolgadíssimos.
Um de nós, acho que eu, disse “Ramones é demais!”, e o outro concordou. Só um
tempo depois, ao ouvir fitinhas do Clash, que descobri que aquelas músicas não
eram do Ramones. Quase sempre rio ao me lembrar dessa ingenuidade e por um bom
tempo isso fez com que eu não gostasse muito de Clash. Lembro até de ter lido
uns dois anos depois, já em 1990 ou talvez em 1991, a biografia de Sid Vicious escrita por Hugo Santos e publicada
pela editora Brasiliense. O livro destacava que Vicious achava o Clash uma
cópia do Ramones. Concordei com isso por muitos anos, mas hoje, ao ouvir novamente
as músicas, não acho tão parecido. O Rancid é que se parece com o Clash, isso
sim. Outro ponto engraçado dessa primeira experiência ao ouvir The Clash é que
na minha ingenuidade pueril achei que Guns of Brixton fosse do Bob Marley e,
por causa disso, demorou muito para eu gostar de qualquer outro som dele
também, pois não achava nenhum reggae tão legal quanto aquele.
Tenho muitas saudades do Maurício
e da irmã dele, que também morreu muito precocemente, a Renata. De andar de
skate com ele, meu irmão e o pessoal do bairro; de ir às festinhas com eles,
ela e as meninas da rua; de ler Mad e Chiclete com Banana e jogar Atari. É do
que muitas vezes me lembro ao ouvir o The Clash e mais do que nostalgia, as
músicas evocam-me um sentimento bom, de ainda ter alguma esperança no futuro. O
que é sincrônico: consta que o Joe Strummer não gostava muito do mote No Future
do Sex Pistols.
Monday, October 17, 2016
Legião Urbana XXX anos, crônica do show
Fui com o pé atrás. Mas num
sábado à noite, em Poços de Caldas (a cidade epítome de Tédio com um T bem
grande para você), fazer mais o quê? Comprei o ingresso de última hora,
desgostoso de estar escrito Legião Urbana e não “Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá
tocam Legião Urbana XXX anos”. Não consigo engolir que se chame Legião após a
morte do Renato Russo. Mas bora lá, meu amigo Juliano Zappia também quis ir em
cima da hora e comprou o ingresso lá mesmo no ginásio poliesportivo, habitual
palco de shows na cidade, nos quais nunca fui, porque sempre ouvi falar da
acústica horrível. De qualquer forma geralmente eram bandas pop que não
interessavam e quando era algo bom eu já tinha visto em outras cidades. Ficamos
na arquibancada e, apesar de certa distância, fiquei surpreso: não só o som
estava razoável como a abertura, com Será, a primeira música do lado A do
primeiro vinil, foi boa, com ela sendo bem executada. Conforme anunciado, as
músicas vieram na sequência: A Dança ficou horrível sem o arranjo funky feito
por Renato Rocha; Petróleo do Futuro foi fiel; em Ainda é Cedo faltou o baixo
pós punk destacado do original (Renato Rocha é um cara subestimado, mas ao
menos foi citado posteriormente por André Frateschi, vocalista que fez as vezes
de Renato Russo), o andamento acelerou no refrão e um solo “rock é rock mesmo” do
segundo guitarrista no fim cobriu a sutileza da guitarra de Dado; Perdidos no
Espaço ficou muito boa, com 'efeitos espaciais” no vocal; Geração Coca-Coça
para mim é ponto fraco do disco, mas mandaram bem ao vivo; O Reggae foi
excelente, com efeitos lembrando dub e Dado cantando um trecho de Guns of Brixton,
do The Clash, uma grande sacada; Baader-Meinhof Blues foi emocionante, fizeram
uma versão pancadaria que a princípio ficou quase irreconhecível, mas manteve o
espírito original; Soldados começou bem, apesar de terem atravessado após o
segundo refrão ainda teve punch (nesse ponto a péssima acústica foi se impondo,
o timbre do teclado ficou agudo demais); Teorema foi enérgica e correta; por
fim, Por Enquanto fechou muito bem como também fecha melancolicamente bem o disco, ao vivo Bonfá
foi maquinal como uma bateria eletrônica e fizeram um arranjo com certo peso,
mas concentrado na eletrônica, lembrando o New Order, tal como a original.
Por mim o show podia até ter
acabado ali, mas teve mais para a alegria do público, que me surpreendeu
negativamente: achei a maior parte bem poser, só sabiam cantar junto os
sucessos e, claro, Por Enquanto, tornada famosa por Cássia Eller numa versão,
sinto muito, chinfrim. Sei que ela era legal, mas não engulo aquilo. A
música seguinte às do primeiro disco foi Tempo Perdido, e aí paguei a língua:
ainda bem que o show se estendeu, porque para mim o disco perfeito do Legião é
o primeiro acrescido dessa belíssima música do Dois, outro discaço. A banda
ainda tocou músicas menos óbvias do Dois; Daniel na Cova dos Leões e, numa boa jogada, Fábrica com outro vocalista, bem andrógino. Dezesseis também foi cantada
por uma vocalista, numa outra tentativa de fugir ao lugar comum, mas achei algo meio jovem guarda o vocal
dela, ou, melhor ainda, parecia a Rita Lee dando gritinho nos Mutantes. Dado e
Bonfá também se revezavam no vocal, num esquema meio The Great Rock n’Roll Swindle.
Foi uma sequência de hits, fora essas três, que poucas bandas podem se orgulhar
de ter: Índios, Angra dos Reis, Pais e Filhos, Meninos e Meninas, Há Tempos e
por aí vai. Quando saíram do palco, eu e Juliano adivinhamos o bis, pois
faltaram justamente três grandes sucessos, e eles vieram conforme imaginamos corretamente (se bem que agora
estou lembrando que não tocaram Eduardo e Mônica),
pois não ficamos olhando o playlist da banda em outras cidades: Faroeste
Caboclo, Perfeição e Que País é Esse?. Neste bis, embora Frateschi tenha falado
que 2016 tem sido um ano terrível, senti uma certa dubiedade: se ele mandasse
um “Fora Temer!” na lata, poderia tomar uma vaia, pois boa parte do público de
meia idade provavelmente votou no futuro prefeito de Poços de Caldas. Prudentemente,
deixou no ar o que queria dizer, pois a postura poderia produzir reações
parecidas com as que o Pearl Jam enfrentou na década passada, ao se deparar com
um público que não tinha a vibe da banda. Quando essa parte do público cantava
junto Que País é Esse?, ainda mais com aquela resposta “é a porra do Brasil”,
eu inevitavelmente não conseguia dissociar: parece energia, mas é só distorção.
Palco logo antes da entrada da banda. Tirei a foto com celular, 15/10/2016. |
Monday, October 10, 2016
Agnostic Front, crônica sobre o show.
Não estou enxergando muito bem,
devido a um problema de saúde, mas a convite do meu amigo Tatá (Otávio Mazza),
topei ir a um show do Agnostic Front em São Paulo, já que vacilei demais ao
longo de anos e perdi várias apresentações deles. Sempre gostei, mas sabia da postura de
direita do hardcore de Nova Iorque que atraia fãs skinheads de extrema-direita. Vá lá, o clássico deles
Fascist Attitudes, uma música da qual gosto muito, critica os nazis e as letras
recentes são muito boas, antibélicas e pró-direitos humanos. Mesmo assim, temia que
fosse algo meio zoado e violento num momento ruim para mim, mas que nada. Só me
fez bem e o público estava na vibe certa do show, da tão propalada união e “família
hardcore” que o Agnostic prega.
Chegamos cedo e vimos os dois
shows de abertura, do Last Warning (cujo nome já deixa patente a admiração pela
banda nova-iorquina) e do One True Reason. Estava muito vazio e deve ser foda
para bandas que tocam hardcore apresentarem-se para um público estático (já que
show com pouco público para uma banda de punk/hardcore não é demérito, mas
geralmente são agitados), no entanto foram aplaudidos polidamente e fizeram seu papel
com energia. Estava tão vazio que ficamos na frente do palco com facilidade quando
começou o Agnostic Front, mas repentinamente brotou gente de tudo que é lugar.
Não estava lotado, só que a galera colou em frente ao palco e assim que começou o show,
com Eliminator (do disco Cause For Alarm, um disco de crossover bem próximo ao
thrash metal) começaram os stage dives e fiquei por lá somente umas duas ou três
músicas, pois desta vez, ao contrário de quando vi o Napalm Death no mesmo
Clash Club, eu estava de óculos. Fomos para trás e quando o Tatá foi comprar
cerveja tocaram Police Violence, uma das melhores músicas do disco mais recente
deles, The American Dream Died, que tem a mesma pegada de hardcore à velocidade
da luz que eles tinham no começo dos anos oitenta. Fiquei esperando, devolvi a
garrafa d´água dele e não resisti quando começou o clássico Victim in Pain,
música que para mim descreve minha vida no momento: fui pro circle pit sozinho
para pogar e cantar junto o refrão com o público. Sobrevivi à roda de pogo
sozinho e quando voltei para trás não achei mais o Tatá. Fui para um canto na
frente, fiquei prensado e não consegui subir no palco quando muita, mas muita
gente mesmo, subiu para cantar junto Crucified, do Iron Cross. Era aquela cena
clássica, nem dava para ver a banda. Fui para o outro canto e consegui subir em
outra música, não me lembro agora qual, acho que era For My Family, mas logo
desci para evitar ser empurrado pelos seguranças. O show ia mesclando clássicos
da adrenalina como Your Mistake, Friend or Foe, United Blood e Blind Justice
com músicas mais recentes que são arrastadas; destas, ao menos A Mi Manera, em
espanhol, para mim foi legal. Quando outra música recente que é uma pancadaria, I Can’t
Relate, também foi executada até entrei na roda de novo. No fim
eles inacreditavelmente (pois eu não conhecia a versão) tocaram Blitzkrieg Bop, do Ramones. Vou
contar isso para meus netinhos, se os tiver, e para todo mundo para o resto da vida: subi no
palco de um show do Agnostic Front, abracei o Roger Miret, e cantei Ramones
junto com dezenas de pessoas. A adolescência nunca acaba, nem se você estiver
velho e doente, pois vale o que diz a música do Seven Seconds tocada pelo DJ
que mandava os sons entre as apresentações: Young Till I Die.
Foto que tirei (com celular) de Craig Silverman e Vinnie Stigma no início do show. Agnostic Front, São Paulo, 08/10/2016. |
Monday, October 03, 2016
Siouxie and the Banshees, uma crônica
Sons soturnos para dias alegres.
Acho que a primeira vez que ouvi Siouxie and the Banshees foi quando vi o clipe
de Peek-a-Boo no Som Pop, apresentado pelo Kid Vinil na TV Cultura. Não gostei
muito, até hoje não sou grande fã da música. Lembro bem da figura marcante da
Siouxie no clipe, mas um dia o som realmente me encantou. No mesmo programa foi
exibido o clipe de Hong Kong Garden. Aí sim. A guitarra aguda, com tons
orientais, o baixo destacado, a batida final num gongo, o vídeo feito com cores
em tons negativos, tudo aspirava a um mistério inalcançável para mim, enquanto
que a energia era um convite a me perder num abismo etéreo. Não dá para
descrever, essa descrição não basta.
Cacei os vinis o máximo que pude.
O que eu podia encontrar, no fim dos anos oitenta, no interior de Minas Gerais,
era nada. Achei uma coletânea chamada New Wave Times em um sebo somente em
1991. Era fascinante, uma paródia do New York Times, feita no Brasil no fim dos
anos setenta pelo... Kid Vinil! Tinha muitas bandas chatas e outras absurdas de
legais, como o The Jam, o Sham 69 e a Siouxie and the Banshees fazendo uma
versão de Helter Skelter. Li nos créditos que a música era dos Beatles, pois
não conhecia, mas até hoje minha versão favorita é a da Siouxie. Começa
devagar, baixo de uma nota só secundado por um guincho de guitarra que vai
sendo acelerado pela bateria, soando como um trem ganhando velocidade aos
poucos até descarrilar violentamente, no final abrupto. Apesar de nessa época
já ter escutado também Cities in Dust no rádio e ter achado a melodia
fascinante, qual não foi a minha decepção ao finalmente achar um disco da
Siouxie num sebo, já em 1992. Era o Hyaena, com uma sonoridade bem mais sutil.
Não bastasse isso, tinha um colante da Fluminense FM na capa e uma amiga, a Ana
Karla, quando viu, achou curioso e tirou um sarro, aumentando o meu desgosto. Tinha
um colante também destacando outra cover dos Beatles, Dear Prudence, que não me
desceu a princípio. Demorou mais de ano para eu realmente gostar do disco, mas
felizmente não desisti dele. Aos poucos as músicas foram ganhando minha afeição
e por muito tempo foi o único disco dela que conheci.
Monday, September 26, 2016
Dead Kennedys, uma crônica.
O vinil branco. O famoso vinil branco do Fresh Fruit for Rotting Vegetables, que
lembra meus primeiros discos de infância, embora meus primeiros compactos com
histórias infantis fossem vermelhos e verdes. Demorou um tanto bom para consegui-lo.
Usado e sem o famoso encarte enorme, que nunca vi pessoalmente.
A primeira vez que li sobre o
Dead Kennedys foi, obviamente, em revistas de skate, no fim dos anos oitenta.
Claro que gostei do nome. Fui ouvir só em 1989 ou 1990, quando o Kid Vinil
passou um trecho de um show deles na TV Cultura. Foi mesmerizante, pela
primeira vez estava vendo como era um show de hardcore, sem separação entre
banda e público; parecia – e é – algo mágico, um estado de graça, de
congraçamento, ainda que sem conteúdo religioso. Eu me lembro até dos gestos
teatrais de Jello Biafra no vídeo deste show – revendo-o, já em meados dos anos
noventa, notei que a música que havia sido exibida era Bleed for Me. Salvo
engano, neste mesmo dia o Kid Vinil passou Holiday in Cambodia, que depois foi
exibida novamente, sozinha. Aí queria porque queria o disco. Só fui conseguir
em 1991, usado. Comprei de um amigo, o Leandro, que na verdade o vendeu para
ajudar um primo, o dono original, que meteu a faca no preço. O primo dele, não
bastasse ser ganancioso, era, na real, um usurpador dos amigos; o disco era de
uma galera em São Paulo, tinha o nome de todos os que fizeram a vaquinha para
ter o vinil e mais um monte de inscrições a canetinha na capa e verso, como
“Piração Total” e “Punk’s not Dead”. Tudo bem, o importante é que o vinil não
tinha risco e provavelmente os donos originais jamais recuperariam o disco,
pois o primo do Leandro havia se mudado para uma cidadezinha do interior de
Minas Gerais, chamada Campestre. Detalhe: na contracapa havia também a
inscrição “Carecas do Subúrbio”. Eu a risquei e escrevi embaixo “Nazi Punks
Fuck Off!”, mesmo que ainda não tendo ouvido a música à época. Mas sabia do
título e já havia pegado o espírito.
Monday, September 19, 2016
Stiff Little Fingers, uma crônica.
Quando ouço Stiff Little Fingers
a sensação que tenho é que as músicas são conhecidas desde sempre, não só por
ser uma típica banda punk 77 cujo som eu gosto tanto, como também pelo fato de
que o timbre da guitarra lembra os primórdios do Toy Dolls, essa sim uma banda
que me acompanha desde a infância. Ou, melhor dizendo, o timbre da guitarra do Olga
do Toy Dolls é que parece o do Stiff Little Fingers, que surgiu antes. Mas só
fui conhecê-los, de qualquer forma, em 1999, com o advento do Napster e do MP3.
Foi o segundo grupo que aproveitei para conhecer com a novidade; o primeiro foi
o Half Japanese, porque àquela época o Ratos de Porão havia lançado um EP`com uma
versão de uma música deles, Fire to Burn. Voltando ao Stiff Little Fingers,
como ao longo dos anos sempre lia sobre eles, mas nunca tinha escutado de fato,
estava na hora de tirar o atraso. Só baixei algumas músicas mais conhecidas,
como Alternative Ulster e Suspect Device, domingo de manhã, quando havia
velocidade de banda o suficiente para isso. A internet era discada e aos
domingos e de madrugada era cobrado um só pulso. A linha ficava ocupada a manhã
toda, mas não havia outro jeito para conseguir o som. De madrugada às vezes
deixava o computador ligado ao telefone e não conseguia sequer
baixar uma música do SSD que tinha meros trinta segundos.
Outra lembrança marcante que o
Stiff Little Fingers me evoca é uma noite em que estava na sala dos fundos de um
bar chamado Let’s Rock, em Poços de Caldas, em 2011, ficando com uma menina de
quem gostava muito então. Do outro lado havia outro casal, também se pegando.
Estava tocando nas caixinhas de som alguma típica banda que sempre rolava lá,
AC/DC, ZZ Top, Thin Lizzy, sei lá, gosto de todas, mas nem eu e nem ninguém estava
interessado. Suspect Device irrompeu nas caixas de som e larguei a mina na hora
e falei para ela “Gosto demais desse som!”, mas demorou um pouco para lembrar o que era;
há anos não escutava. Reparei que o cara que estava com a outra menina do outro
lado da salinha também a havia largado e parecia escutar o som extasiado.
Perguntei, meio que afirmando, empolgado: “Stiff Little Fingers?”, ao que
de pronto ele respondeu entusiasmado que sim. Ficamos quietos ouvindo a música
e elas ficaram esperando, quando acabou quando um voltou para a sua garota e
não nos vimos nunca mais, mas foi uma boa amizade.
Monday, September 12, 2016
Vírus 27
Lembro-me bem de quais foram os cinco primeiros vinis que tive. O Nevermind the Bollocks do Sex Pistols, o Wackey Wackey do Toy Dolls, o Brasil do Ratos de Porão, o Cadê as Armas? das Mercenárias e o VI do Circle Jerks. O primeiro em 1989 e os demais em 1990. Um dia, ao entrar numa loja, achei um disco do Vírus 27, o Brasil Oi!; fiquei tentado, pelo menos para conhecer, pois não havia mais nenhum disco de punk/hardcore na cidade, mas tinha lido uma entrevista deles para o Glauco Mattoso na Chiclete com Banana no qual eles se declaravam nacionalistas de direita. Sabia que o título não era ironia. Logo desisti do disco e tenho muito orgulho de saber exatamente o que estava fazendo com apenas 15 anos. Meu sexto disco acabou sendo um de psychobilly, do S.A.R., o qual achei na mesma loja, que depois passou a vender artigos religiosos para umbanda e candomblé.
Monday, September 05, 2016
Legião Urbana, uma crônica
É das primeiras músicas das quais
me lembro de gostar. Ouvi pela primeira vez numa propaganda de TV; será que era
para anunciar a participação em algum programa de auditório? Era o vídeo de
Tempo Perdido, tenho certeza. Depois ouvi no rádio. Fiquei encantado. Foi a
primeira vez na vida que prestei atenção espontaneamente à letra de uma música.
Isso foi por volta de 1986/1987, tinha uns doze anos. Quer dizer, eu sabia a
letra de algumas músicas, principalmente porque meus colegas de escola falavam
das do RPM, mas Tempo Perdido foi a primeira que me interessou mesmo, mas não
havia com quem a conversar a respeito. Ninguém se importava muito e acho que
nem eu.
À época respondi um daqueles
cadernos de perguntas que as meninas faziam e davam para você levar para casa –
sim, já se stalkeava naquela época, mas era mais explícito – e respondi que
minha música favorita era Tempo Perdido, sem titubear. Ela perguntou depois o
porquê e eu disse que a letra refletia a vida; não sei por que disse isso. Hoje
ela é atriz, às vezes a vejo no teatro. Eu devia estar afetando profundidade,
ela deve ter percebido, pois pareceu incrédula. Para mim, a resposta foi
sincera. Tempo perdido.
Monday, August 29, 2016
Cabine C, uma crônica sobre uma das maiores aventuras da infância
Não bastava o Atari. Era 1986, eu ainda não havia feito
12 anos. Éramos
crianças demais para um tumulto adolescente. Em vez disso, construímos uma nave espacial, eu e meu irmão. Pegamos as cadeiras,
fizemos uma armação empilhando-as, as cobrimos com lençóis sustentados por
vassouras sobre elas e o armário e armamos outras duas cadeiras em frente à
televisão. Tínhamos nossa cabine e nosso foguete era o jogo Beamrider.
Foi a melhor viagem ao espaço que
fiz, melhor que as dos livros infantojuvenis de FC que havia lido. No jogo
combatíamos alienígenas cujas naves despontavam no horizonte, atacando-nos com
disparos de lasers. Éramos bons o bastante e atravessamos várias fases. Um
amigo dizia-nos que no final do jogo chegava-se à Terra. Acho que não havia
final, mas se houvesse, não chegamos a tempo, pois nossos pais chegariam antes
e desmontamos nossas naves antes de sermos abatidos pela eventual fúria
terrestre deles.
Monday, August 22, 2016
Front 242, uma crônica
Estive afastado de computadores por pouco mais de um mês. Hoje voltei a escrever contos e crônicas.
O futuro, nos estertores dos anos
1980, era o som do Front 242. Nada soava mais cyberpunk e eu nem sabia a
existência dessa palavra. Era uma banda belga que se tornou referência do que
parecia-nos vanguarda europeia da época, embora nem seja tão vanguardista
quanto as bandas realmente industriais que existiam antes. O barulho que fecha
uma das suas músicas relativamente populares à época, Masterhit,
indicava o que Ministry e Nine Inch Nails fariam depois, mas de forma mais
sintetizada, não soando vagamente analógico. Aquele barulho disforme sugeria
que o futuro seria desolador, perigoso e sombrio; em especial, se não se
preparássemos a mente para lidar com alta tecnologia e o corpo para fugir de
ameaças sutis. Um vídeo em especial, em que um anãozinho pilotava um mini-helicóptero
que invadia um galpão onde estavam os integrantes, parecia um prenúncio
sinistro.
Em meados dos anos noventa estava
assistindo o Lado B da MTV com meu irmão e revimos esse vídeo. Ficamos tão
decepcionados... Era farsesco, cordas eram visíveis levantando os integrantes,
que pareciam tão desesperados quando vimos pela primeira vez, o helicóptero
parecia um brinquedo malfeito. Era cômico, mas não era engraçado. Front 242, então,
já soava como passado embolorado. Estranho recordar disso tudo em 2016. Vinil
voltou a ser algo que caracteriza essa época. Drones genocidas na Ásia talvez
prenunciem mini-helicópteros nos quais uma pessoa pode entrar na sua casa e te
liquidar. Front 242 foi usado como base musical até pelo Bonde do Tigrão, na popularização
do funk carioca. Era o som do futuro sim e ele já chegou; é desolador e
perigoso, mas ensolarado.
Monday, July 11, 2016
Fellini, uma crônica
É curioso quando penso hoje a
respeito porque os nomes nem se parecem muito. No fim dos anos oitenta, quando
eu tinha entre 13 a 15 anos – ou seja, entre 1988 e 1990 –, comecei a gostar de dois grupos que tocavam muito de vez em quando no rádio: Fellini e Defalla.
Eram tempos de informações escassas e nada sabia sobre as bandas, a não ser que
eram brasileiras, porque cantavam em português. Mas confundia uma com a outra e
na minha ingenuidade ainda meio infantil achava que a que tinha uma música
chamada Teu Inglês era o Defalla. Só fui desfazer a confusão quando comprei o 3
Lugares Diferentes, vinil do Fellini, em um sebo. Só consegui encontrá-lo em
1991 ou mais provavelmente em 1992, quando comprei muitos discos num sebo da
minha cidade, pois muita gente se desfazia de vinis na era do CD, para a minha
felicidade. Vinil era algo tão barato e acessível... Justamente o contrário de
hoje.
Mais curioso ainda é quando
reflito porque Teu Inglês é uma música que me fascinava tanto. Talvez gostasse
do sentimento de saudade que a letra passava, mas eu era novo demais para ter
tantas saudades. Mais do que isso, noto que somos produtos do nosso tempo.
Gosto tanto da sonoridade pós punk porque vários discos do fim dos anos setenta
e começo dos anos oitenta estavam saindo no Brasil naquela época, com atraso: Joy
Division, PIL, os primeiros do New Order. Não sabia de nada disso, mas escutava
no rádio e principalmente em programas de skate na TV, além de bandas como
Legião Urbana, U2 e o próprio New Order serem muito populares, preparando meus
ouvidos para as sonoridades mais experimentais do gênero. Se não deixo de ser
um produto da minha época porque o Fellini que mais me importa é a banda, ressaltando que também amo os filmes do Fellini, devido às memórias da época,
não deixo de ter certa satisfação por também não ser exatamente um produto e me
encaixar nos padrões de qualquer indústria cultural, mesmo que alternativa: Teu
Inglês é única, muito diferente de Rock Europeu, outra música do Fellini que
fez certo sucesso à época e tinha forte influência pós punk, mas que só conheci
depois. Se algo que não se encaixa nem nos padrões que procuram fugir de padronizações
me fascinava quando garoto, é porque estava na senda certa. Minha irmã reparou
ontem, quando eu ouvia o vinil, que Teu Inglês tem até alguma brasilidade escondida no ritmo. Alquimia
que só me interessaria de verdade muitos e muitos anos depois. Ou seja, a
música também preparou meu ouvido, mas para outros experimentos.
Monday, July 04, 2016
Virgin Prunes (conto inspirado em memórias da pré-adolescência)
Os garotos reúnem-se na esquina.
A conversa não tem sentido. Discutem se o U2 é da Austrália, dos Estados Unidos
ou do Canadá. Todos estão errados, mas têm certeza de que estão certos. Daniel
e Marcão, que não eram exatamente chegados, mas meros conhecidos que orbitam em
volta de amigos em comum da rua, exaltam-se e chamam-se de burros, ignorantes e
por aí vai. Diante das risadas dos outros moleques, decidem-se calar-se, numa
trégua tácita.
A conversa toma o rumo das garotas. Elas não
ficam mais no bairro. Já têm 14 anos, ficam com outros moleques, todos mais
velhos, preferem ir ao centro. A verdadeira preocupação dos que se reúnem na
esquina, com idade média de 13 anos, era fazer piadas com Adriano, que era flamenguista,
porque o time dele jogava “cu Zico”, além de várias outras infâmias. Todos ali,
no entanto, sem exceção, contam histórias de meninas com quem já haviam ficado.
Tudo mentira. Daniel é o único que ficou quieto. Somente ele já havia beijado
uma menina.
Lá pelas duas da tarde, já com o
sol menos assassino, vão jogar bola na rua. Má ideia, pois o sol ainda é
inclemente. Aguerridos, suados, jogam a sério, querendo vencer, algo que nunca
faziam. Marcão erra a bola e chuta a canela de Daniel, que desaba no chão,
gritando exageradamente. Não era pra tanto. Mas já havia uma tensão. Daniel
levanta chamando o desafeto de cavalo. Marcão o chama de bichinha. Daniel não
deixa por menos.
- Como posso ser, se eu já fiquei
com a sua irmã?
Era verdade. Marcão logo intui
isto, pois não entendia por que Daniel sempre ficava brincando com os moleques
mais novos, de uns dez anos, na porta da sua casa, e ainda assim sempre
conversava com sua irmã mais velha. Num
final de tarde, chegando na esquina, viu Daniel saindo de sua casa e ficou
intrigado com aquilo. Agora está explicado.
Atracam-se. Esmurram-se na cara
sem pena. Não acertam em cheio, sempre pega meio de lado, pois se mexem demais
e seguram-se pelas golas das camisas. Forma-se uma rodinha em volta,
estimulando-os a saírem mais na pancada ainda. Mal rolam no chão, no entanto, e
são separados.
Atônitos, encaram Júnior, que
mora em frente e saiu na porta de casa para entender a algazarra. Lutador de
kung fu, já maior de idade, grandão, sacana e famoso por meter-se em brigas na
escola. Estão suspensos pelas camisas. Júnior ri e o joga-os cada um para um
canto. Intimamente, ambos têm certeza que apanharão de Júnior; sabe-se lá o
porquê da intervenção.
- Vão embora vocês dois daqui.
Vocês não têm idade para sair na porrada não – ordena Júnior, gargalhando.
Os olhares curiosos aguçam-se.
Marcão sai sem conseguir conter o choro. Daniel apressa-se a sumir dali, mas não sem antes gritar um “chora mesmo, mariquinha”. Corre e ri. Ao chegar em casa, mete-se logo no banheiro, para a mãe não ver o estado em que está, e toma banho. Os ralados nas pernas e nos braços ardem e as lágrimas confundem-se com a água do chuveiro. Convence-se de que não está chorando.
O nome do conto, embora o conteúdo não fale a respeito, é uma referência ao grupo gótico/pós punk irlandês Virgin Prunes. Na foto, a capa do disco ...If I Die, I Die (1982), aqui reproduzida via licença Creative Commons. |
Monday, June 27, 2016
Napalm Death
Tem duas bandas sobre as quais li
nos anos oitenta, em revistas de skate como a Yeah! e a Overall, e virei fã
antes mesmo de ouvir, só por causa dos nomes: Sex Pistols e Napalm Death. Eu
era garoto, estava começando a aprender inglês e ficava embasbacado. Como alguém
tinha coragem de batizar grupos com nomes tão fortes? A primeira vez que ouvi o
Never Mind the Bollocks foi inesquecível, porque cultivava expectativas
enormes, e sempre me decepcionei ao ter grandes expectativas com algo, menos
com o Sex Pistols. Já o Napalm Death atendeu perfeitamente ao que esperava, até
porque já tinha uma ideia melhor de como era a música, pois posteriormente li
mais um artigo sobre eles, na minha revista de HQ favorita, a Animal, escrito
pelo João Gordo. Ele descrevia o som deles e de outras bandas da Earache, a
gravadora independente que lançou o Napalm Death, como algo muito mais
barulhento do que era conhecido à época, o hoje bem estabelecido grindcore, e ao
final do texto afirmava “só sei que liquidificador com gelo também é música”.
Quando finalmente consegui ouvir o From Enslavement to Obliteration, já no
começo dos anos noventa, era exatamente isso.
Por inúmeras razões, ao longo dos
anos e das várias vindas do Napalm ao Brasil, nunca havia visto um show deles.
Agora, em 2016, com mais de quarenta anos, finalmente pude reencontrar-me com
minhas perspectivas de adolescente e as satisfazê-las completamente. Foi um dos
melhores shows que já vi. Como disse meu amigo Daniel Ikuma, foi o equivalente
a termos visto o Fugazi nos anos noventa.
Fui de última hora, no próprio
domingo do show, para São Paulo, devido a compromissos pessoais. Cheguei no Clash
Club exatamente dez minutos antes do show de abertura. Logo encontrei meu amigo
Otávio Mazza, o Tatá, que estudou jornalismo comigo na Unesp, no campus de
Bauru. Fomos para perto do palco e, depois de várias tentativas frustradas, vi
o Test pela primeira vez ao vivo. O duo de grind costuma tocar na rua e já
passei perto de shows deles um par de vezes, mas não havia conseguido parar
para assistir, mesmo já tento visto várias outras bandas no famigerado palco
Test, montado nas ruas de São Paulo durante as Viradas Culturais. Em cima de um
palco deu para sacar como ao vivo é uma pancadaria mais impiedosa do que no
estúdio, prescindindo mesmo do baixo, com a interação guitarra/bateria exalando
ferocidade, mas isto só me fez ter mais vontade vê-los tocando numa calçada, de
perto, pois a frieza do público, que só observava, e o palco não correspondiam
ao calor arruaceiro da apresentação.
O próximo show foi do Genocídio,
tradicional banda de death metal, existente desde 1986. Como nunca acompanhamos
a carreira deles com interesse fomos para trás para comprarmos algo para beber,
conversarmos e comprarmos discos do Napalm e do Test na banquinha. Deu para
sacar que é uma boa banda ao vivo, mas queríamos botar a conversa em dia e foi
bom, porque também encontramos meu velho amigo Fernando Punk perto da banquinha, junto
com mais dois amigos de Bauru. Essa característica das amizades duradouras e
reencontros felizes é um dos maiores prazeres de frequentar shows underground
ao longo de décadas.
Findo o show do Genocídio,
rumamos para perto do palco. Ia ficar mais para o lado, como no primeiro show,
mas o Fernando e a galera de Bauru foram mais para o fundo. O Tatá teve a feliz ideia de irmos ficar exatamente em frente à banda, um pouco
atrás das pessoas que estavam grudadas ao palco. Achei que não daria conta, mas não
gosto de ficar atrás, por ser mais baixinho. Quando o show começou abriu a roda
e como sempre acabamos sendo empurrados mais para frente. Dali não saí mais. Mesmo
meio prensado, me diverti demais e consegui pogar um pouco. Não entrei na roda
um pouco atrás para não parar lá no fundão e ficar mais difícil de assistir o show
com muita gente na frente e optei, por isso mesmo, em não subir no palco desta
vez para um stage dive – certeza que pararia longe também. Claro que por isso
virava e mexia tinha que segurar alguém que pulava.
Não cultivei expectativa nenhuma sobre o show.
Sabia que mudavam o setlist a cada apresentação. O que é ótimo, bem diferente
das bandas preguiçosas que pululam por aí. Simplesmente deixei fluir e não me
preocupei se iam tocar ou não minhas favoritas. Mas várias delas vieram.
Unchallenged Hate, Scum e You Suffer, por exemplo. Essa última tocada de
surpresa, sem anúncio. Um segundo só. Quem olhou para trás perdeu. Eu vi. Emocionante.
Em Greed Killing o vocalista Barney Greenway apontou o microfone para algumas
pessoas que estavam na frente berrar o “When?” do refrão e tive a felicidade de
ser uma delas! E eu, que estava gripado, tomando muito remédios para dor de
garganta, consegui gritar ao microfone num show do Napalm Death. Nunca nem
sonhei com isso e ao mesmo tempo é a realização de um sonho adolescente. Barney
é muito simpático e conversava muito com o público e mais ao fim do show vi uma
cena muito legal: um cara se aproximou e gritou, em inglês, que um
amigo havia perdido o tênis ao subir no palco. Barney pediu para o cara
aparecer e mostrar o pé descalço; o sujeito veio lá de trás e o mostrou que
estava só de meia, então Barney achou o tênis e o devolveu. Era um clima
muito amigável, a despeito da agressividade desmedida do som. Num dos
intervalos, gritei para tocarem Nazi Punks Fuck Off, do Dead Kennedys. Barney
ouviu e respondeu que era daqui a pouco, só aguardar. Um sujeito ao lado pediu
para tocarem Love of my Life, do Queen, de brincadeira, o que provocou risadas
em muita gente por perto, inclusive da banda. Nazi Punks Fuck Off veio, eu
estava pertinho, foi um atropelo, logo depois de Low Life, outra versão; a original é do Cryptic
Slaughter. Quando o show acabou, curto e grosso, sem bis, eu estava mais
disposto do que quando cheguei.
Uma das poucas fotos que tirei do show, pois como estava perto demais do palco fiquei com medo de perder o celular em meio à agitação. |
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