O beijo assusta. Desejava-o, mas não tem sentido.
Após todos esses anos querendo-a em silêncio sofrido tinha certeza de que ela
havia percebido seus olhares platônicos e os desprezado olimpicamente. Retribui-o
por instinto.
Ela então pergunta se ele trouxe o vinil do Joy
Division que ficou de ouvirem juntos. Isso aconteceu em um sonho. Que ele não
contou para ninguém. Nem sequer tem CDs do Joy Division. “Não, esqueci”. Sorri
desconcertado. “Você está tão pálido”. Sonha com ela há três dias. Teve
poluções noturnas, o que não acontecia desde a adolescência. Parecia real. É
real, agora, mas não parece.
Ao longo do dia procura amigos com quem sonhou.
Seus sonhos têm se passado somente à noite, não há mais sol no seu mundo
onírico, que se tornou realista e minucioso, e neles tem a autoconfiança que
sempre lhe faltou. Todos se lembram das conversas e riem de novo das piadas que
contou.
À noite ruma lépido para casa. Agacha-se e olha
embaixo da cama. Seu duplo o encara, arrasta-se para o meio do quarto,
levanta-se e sorri com desdém. É ligeiramente mais alto, pois não é curvado. Bronzeado,
mais forte. Faz sentido. Ele encolhe-se debaixo da cama para de lá nunca mais
sair. Agora tem a vida com a qual sempre sonhou.
Daniel Souza Luz é jornalista e
revisor
Escrevi o pequeno conto (ou miniconto, fica ao gosto do freguês) O Monstro em cima da cama para um concurso e o publiquei aqui no blog há mais de oito anos, em nove de junho de 2010. O revisei e reescrevi de leve para publicação na edição do Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) de 22 de dezembro de 2018. Disse na postagem original, na qual dou mais detalhes sobre o concurso, que pretendia ampliar o conto ao reescrevê-lo, mas relendo-o apenas fiz algumas alterações e não senti ganas de mexer na história, já havia contado o que queria. Uma curiosidade sobre tecnologia: no original falava em DVD, que caiu em desuso, e para publicá-lo num jornal em 2018 e não parecer datado tive que resgatar o bom e velho vinil.
Escrevi o pequeno conto (ou miniconto, fica ao gosto do freguês) O Monstro em cima da cama para um concurso e o publiquei aqui no blog há mais de oito anos, em nove de junho de 2010. O revisei e reescrevi de leve para publicação na edição do Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) de 22 de dezembro de 2018. Disse na postagem original, na qual dou mais detalhes sobre o concurso, que pretendia ampliar o conto ao reescrevê-lo, mas relendo-o apenas fiz algumas alterações e não senti ganas de mexer na história, já havia contado o que queria. Uma curiosidade sobre tecnologia: no original falava em DVD, que caiu em desuso, e para publicá-lo num jornal em 2018 e não parecer datado tive que resgatar o bom e velho vinil.
O conto O Monstro em cima da cama publicado no pé da página oito da edição 6944 do Jornal da Cidade. |