Sunday, June 28, 2009

Enfim parte 13

- Aqui está. Debaixo destes assoalhos. Se você tiver palavra, deixe meu neto em paz, pelo amor de Deus.

- Ah, pode ter certeza que ele vai concluir a academia e chegar a sua patente, como você sonha. – Júnior rebate friamente.

Arrancamos as tábuas aos golpes de facão, amassando-as com o pé, atirando-as longe. Júnior pede para que esperemos um pouco. Encaro o velho, que não abaixa o olhar momento algum. Não trocamos uma palavra. Júnior foi célere, logo volta com a pá que havíamos esquecido, porém, senti muito mais que todo o tempo da minha vida passar por aquele breve instante.

Continua...

Sunday, June 21, 2009

Enfim parte 12

- Você acha que sou comunista? Viu o jipe em que nós te trouxemos aqui? Deixa eu te dizer uma coisa então: obrigado por manter o país livre do comunismo, pois pude enriquecer. E você, como é o único animal aqui, e admito que você é um animal de certa estirpe, então vai nos levar onde papai está, pois é isto que os animais da sua espécie fazem: obedecem e rastreiam.

Mal se mantendo em pé, trôpego, pela primeira vez o velho me parece frágil. O tom de voz é quase suplicante, mas sua expressão se mantém feroz, mesmo quando ele cospe, ou vomita, não sei, uma considerável quantia de saliva tingida de vermelho.

Continua...

Sunday, June 14, 2009

Enfim parte 11

- Você não tem moral para falar nada sobre minha mãe, ela é um ser humano, pode errar, como qualquer ser humano. O único animal aqui é você, que não acha errado as selvagerias que praticou. Olha para mim. Olha para mim!
Para um senhor com idade relativamente avançada, o velho ainda era muito corpulento, manteve sua postura ereta, indicativa de força. Mesmo assim, Júnior o levantou de uma vez só, passando o facão em seu braço. O corte é nítido, mas sangue só começa a descer quando o discurso de meu irmão se encerra.
Ainda continua...

Sunday, June 07, 2009

Enfim parte 10

Meto uma bica nas costas do desgraçado. Quando ia repetir o gesto, meu irmão pede para me conter. Nem assim, o velho se cala.

- Ah, você! Os caçulas sempre são mais nervosinhos. Sabia que o irmãozinho daquela vagabunda amiga do seu pai quase conseguiu me chutar quando viu a gente comendo ela?

O mano recobrou a calma. Ele pisa calmamente no pescoço do velho.

- Se o que você disse a respeito da minha mãe é verdade, isto só demonstra a grandeza do caráter do meu pai...

- Comunista não tem caráter, são uns animais. Comunista sujo, seu pai era um comunista sujo, um porco. Foi destripado como todo porco, como o animal que era. Aposto que vocês são uns comunistas de merda também. Filho da puta.

Uma risada nervosa precede o derradeiro ato paciente do meu irmão para com aquele escroto.

Continua...