Wednesday, March 21, 2018

Morrissey, uma poesia

Escrevi uma poesia chamada The Smiths
Um dia a lerei num sarau
Mas não será nesse
Um dia a moça para quem a escrevi
Estará por perto

Daniel Souza Luz
20 de março de 2016
Morrissey ao vivo em 2014, em Nashville. Foto de Kathryn Parson (Creative Commons).


Escrevi esta poesia, de improviso, no Sarau de Ninguém e a publiquei no dia seguinte no Instagram. O sarau é organizado pelo músico poços-caldense Tokinho Carvalho e neste dia a poeta convidada era a brasiliense Tatiana Nascimento, que estava lançando seu livro lundu, (o título é assim mesmo, com inicial minúscula e vírgula no fim) e até o autografou para mim citando a leitura da minha poesia poesia no recital. Escolhi homenagear o Morrisey no título pois, além da poesia original chamar-se The Smiths, esta aqui é muito melodramática.

Friday, March 02, 2018

The Fall

Mark E. Smith, o vocalista do The Fall, faleceu dias atrás, mais precisamente no dia 24 de janeiro de 2018, aos 60 anos. Tinha fama de ser uma pessoa difícil; era o único membro constante da banda, pela qual passaram mais de sessenta músicos. Para mim, é uma daquelas lendas sobre as quais lia na imprensa quando garoto, mas cujo contato com a obra em si demorou um pouco.
O Fall era a típica banda pós punk da mítica Manchester, cidade industrial inglesa então decadente, refletida na sonoridade sombria e nas letras de E. Smith abordando aspectos menos felizes do cotidiano, o que o tornou uma figura cultuada pelo seu texto e vocal inconfundível, aliás, como muitos outros letristas de sua época, tidos como poetas de primeira linha.  Mesmo tendo início nos anos setenta, imediatamente após a explosão do punk em 1977, é uma banda fortemente associada aos anos oitenta, pelas suas características e pela relevância da discografia daquele decênio.
Embora lesse a respeito na Bizz, extinta revista musical, no finzinho da década de oitenta, só fui ouvir em 1992, quando estava no chamado secundário (hoje ensino médio) e um colega viu o desenho que fiz do logo do PIL no meu caderno, puxando conversa. Esse colega de sala, o João Louco, ao saber que o Joy Division era minha banda favorita, gravou para mim o Bend Sinister, disco do Fall que ele tinha na edição em vinil. Não me decepcionou, pelas ótimas referências que tinha poderia ter cultivado expectativas excessivas. Só estranhei alguns teclados new wave em músicas animadinhas que contrastavam muito com o tom sóbrio, mas há muito tempo saquei que aquilo era cinismo, o típico sarcasmo oitentista, por parte deles.
Com o passar dos anos noventa, achei em sebos tanto o Bend Sinister, de 1986, quanto o The Frenz Experiment, de 1988, os únicos discos que saíram no Brasil, ao menos que eu saiba, ambos em vinil. Sou especialmente afeiçoado ao primeiro, que foi o disco pelo qual os conheci. Embora encontrando CDs importados, baratos quando o dólar estava em paridade com o real, antes de 1998, e ouvindo outros discos pela internet, neste século, não conheço nem metade da discografia do The Fall e olha que sou bem fã; no entanto, logo explicarei meu parcial desencanto com o grupo. Mark E. Smith era extremamente prolífico e lançou 78 (setenta e oito!) LPs, contando os inúmeros ao vivo, entre 1979 e 2017. Isso sem mencionar os compactos e EPs.
Ouvi por cima o penúltimo disco de estúdio, Sub-Lingual Tablet de 2015, e até apreciei, mas o último disco deles que realmente gostei foi o Extricate, de 1990, o qual procurei apenas em 2016. É brilhante, começa como citação aos Stooges, e musicalmente é uma continuidade um pouco mais polida dos discos anteriores, com alguns músicos remanescentes. Mas a verdade é que quando conheci o disco de 1993, que fez até certo sucesso no exterior, The Infotainment Scan, meu interesse pelo grupo arrefeceu, pois dos anos noventa em diante me parece que E. Smith passou apenas a se repetir, mas usando outra banda, aliás, qualquer banda.
Um amigo, Aran Carriel, me contou de uma frase famosa de E. Smith, “Se sou eu acompanhado por sua vovó nos bongos, então é o The Fall”, citada no obituário publicado pelo jornal The Guardian, e me mostrou um vídeo relativamente recente de um show do grupo, no qual E. Smith deixa o palco e diz para os fãs terminarem o show, assumindo o microfone, o que realmente fazem. Talvez o The Fall se torne uma banda infinita por isso, como os Demônios da Garoa, até hoje tocando com descendentes de seus músicos originais; talvez não, espero que não, pois a música já está imortalizada. Já para Mark E. Smith, infelizmente, a queda que espera por todos nós chegou.
Daniel Souza Luz é jornalista e revisor
Mark E. Smith ao vivo com o The Fall, em Berlim. Foto de Stefan Müller, via licença Creative Commons. A original pode ser vista aqui: https://www.flickr.com/photos/stefan-mueller-net/30937763673/

Esta crônica foi publicada no Jornal da Cidade (Poços de Caldas/MG) em 27 de janeiro de 2018 e no site em 29 de janeiro seguinte. Era então inédita e e a escrevi tocado pela morte do Mark E. Smith. Mantive-a como está, não tenho reparos a fazer no texto. O nome da banda já havia inspirado outra crônica minha, The Fall, uma croniqueta, publicada aqui no blog em 31 de outubro de 2016 e reformulada para o Jornal da Cidade, com o título A Queda, que a publicou em primeiro de julho de 2017 e no site em três de julho de 2017. A Queda, inclusive, como já mencionei numa micrônica, é um uma crônica que ainda quero reescreve mais uma vez, pois há mais detalhes a ser contados sobre o episódio.